BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta terça-feira que as atuais pressões inflacionárias tendem a arrefecer ou até mesmo a desaparecer, defendendo que a inflação está sob controle e que fechará neste ano dentro dos limites da meta do governo.
Tombini, que participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, disse ainda que não há "contradição ou incompatibilidade" entre as medidas macroprudenciais tomadas recentemente e a política monetária, e rejeitou que o país esteja em "estagflação".
"No médio prazo, pressões inflacionárias ora presentes na economia... tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotarem", afirmou Tombini, reforçando a indicação que a Selic não será reduzida e que a política monetária tem de continuar "vigilante".
"Mantidas as condições monetárias, isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção do Banco Central", afirmou ele, repetindo a frase publicada na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulga no mês passado. [nL2N0PZ131]
A inflação em 12 meses tem ficado acima do teto da meta oficial, de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.
Atualmente, a Selic está em 11 por cento ao ano e, devido à fraqueza da economia num cenário de inflação elevada, parte dos agentes econômicos acreditava que o BC poderia reduzir a taxa básica de juros em breve. O raciocínio foi enterrado com a clara sinalização dada pelo BC.
O presidente do BC rejeitou que o Brasil esteja em "estagflação", com atividade econômica estagnada e inflação elevada. "Estamos longe de estagflação".
Tombini defendeu que, apesar de manter a Selic em níveis elevados, as medidas de estímulos ao crédito adotadas em julho não são contraditórias com a política monetária, que busca a estabilidade de preços. [nL2N0Q00ZC]
"Gostaria de afirmar mais uma vez que não há qualquer contradição ou incompatibilidade entre as ações recentes de política macroprudencial e a política monetária, uma vez que são instrumentos que têm objetivos distintos", afirmou ele.
As medidas, que têm potencial para injetar 45 bilhões de reais no mercado, argumentou Tombini, buscam "assegurar a estabilidade financeira".
Sobre a atividade econômica, Tombini afirmou que ela ficou perto da estabilidade no primeiro semestre, mas que é esperada retomada no segundo semestre.
O BC calcula atualmente que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescerá 1,6 por cento neste ano, abaixo dos 2,5 por cento vistos no ano passado. Tombini, no entanto, lembrou que os cálculos da autoridade monetária são revisados a cada trimestre, com o relatório de inflação.
Economistas consultados pelo BC na pesquisa Focus veem que o PIB crescerá apenas 0,86 por cento neste ano. [nL2N0QA0C3]
CENÁRIO EXTERNO
Tombini ressaltou que os mercados financeiros globais continuam com "elevado nível de liquidez, prêmios de riscos comprimidos e volatilidade em patamar próximo ao mínimo histórico", mas que esse cenário não é eterno e, assim, exige mais atenção "e não devem ser motivo de complacência".
Para o presidente do BC, é preciso monitorar ainda as tensões no leste europeu e no Oriente Médio, bem como avaliar potenciais implicações para os mercados financeiros e para os preços dos ativos. Também é preciso acompanhar a situação da Argentina.
"Em suma, estamos num ambiente global que evolui em linha com nosso cenário-base e não antecipamos variações capazes de mudar significativamente a análise que temos dos desafios domésticos", acrescentou.
(Reportagem de Luciana Otoni e Silvio Cascione)