Caracas, 13 jan (EFE).- A Venezuela está à espera do plano econômico anunciado pelo presidente Nicolás Maduro para encarar uma crise que pode provocar a falta de pagamento dos títulos da dívida, advertiu nesta terça-feira a agência qualificadora de risco Moody's.
A agência de classificação de risco rebaixou dois graus (de Caa1 para Caa3) os bônus venezuelanos após avaliar que o risco de falta de pagamento do país aumentou "substancialmente".
Caso A Venezuela efetivamente caia "em default" (falta de pagamento), as perdas dos credores superariam 50% de seus instrumentos de dívida, calculou.
A queda dos preços do petróleo, "sustentada e dramática para a economia da Venezuela", segundo a Moody's, "afetará negativamente o balanço de pagamentos e neutralizará amplamente os benefícios potenciais de futuros fluxos de investimentos estrangeiros".
O rebaixamento da qualificação da Moody's coincide com a viagem internacional de Maduro em busca de investimentos, e também do que chamou dinheiro "constante e ressonante", para apoiar a arrecadação interna para o plano de "recuperação econômica" que anunciou há três semanas.
Na China ele obteve US$ 20 bilhões em dinheiro, e no Catar conseguiu que "grandes bancos forneçam oxigênio suficiente" para cobrir as perdas derivadas da queda dos preços do petróleo, antecipou Maduro.
"Há vozes por aí agoureiras que dizem que a guerra do petróleo se manterá por dois anos. Se durar dois anos, nós temos força para continuar o ritmo deste combate. Se for por quatro anos, também temos", discursou o presidente venezuelano.
Além de China, Arábia Saudita e Catar, a viagem iniciada na semana passada o levou a Rússia, Irã e Argélia, algumas delas associadas à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) ode busca coordenar políticas para recuperar os preços da matéria-prima.
Mês passado foi a agência britânico-americana Fitch Ratings que rebaixou a qualificação da dívida venezuelana, de "B" para "CCC", dada a "limitação" do país em responder à queda do preço do petróleo e seu nível "relativamente baixo" de reservas monetárias.
O preço de venda do barril do petróleo venezuelano fechou na sexta-feira em US$ 42,44, e o nível de suas reservas internacionais é de pouco mais de US$ 21,4 bilhões.
O grau "CCC" da Fitch considera que o risco de "default" venezuelano é uma "possibilidade real", na mesma linha da Moody's hoje.
Maduro acusa estas agências de risco de pôr à Venezuela como o pior país do mundo para investir, inclusive com mais riscos que nações em guerra como a Ucrânia, unicamente por "causas políticas".
Moody's rebaixou a qualificação de "B2" a "Caa1" há um ano e desde então advertiu sobre um "notório aumento" do risco de colapso econômico e financeiro da Venezuela.
Isso, segundo a agência, por "desequilíbrios macroeconômicos cada vez mais insustentáveis, que incluem uma inflação muito elevada e uma marcada desvalorização da taxa de câmbio paralelo".
O dólar paralelo, fora da cotação oficial estabelecida de 6,3 bolívares para cada US$1, alcança quase 180 bolívares, preço que pagam "só os estúpidos", disse Maduro há uma semana.
O plano de "recuperação econômica" anunciado pelo presidente pretende acabar com esse mercado especulativo, o que ele confirmará quando retornar ao país e detalhar seu conteúdo, embora já tenha antecipado que inclui um novo sistema cambial e uma reforma tributária.
O anúncio de Maduro foi feito depois de o Banco Central divulgar que a economia venezuelana se contraiu nos três trimestres de 2014 e a inflação acumulada entre novembro de 2013 e novembro de 2014 foi de 63%.
A exportação de petróleo é responsável por US$ 9 de cada US$ 10 que entram no país, divisas administradas desde 2003 pelo Estado, através de três taxas de câmbio, uma de 6,3 bolívares por dólar, outra que oscila e atualmente é o dobro da primeira e uma terceira onde a cotação também varia e que atualmente é de 51 bolívares.
Analistas especulam que o novo plano de Maduro incluirá uma "unificação cambial".