Entidades do setor produtivo, que normalmente se manifestam imediatamente após os anúncios do Comitê de Política Monetária (Copom), aumentaram o coro por corte dos juros, desta vez, na véspera da decisão do colegiado. A expectativa dos empresários é de que a reunião, iniciada nesta terça-feira, 20, termine amanhã com, no mínimo, alguma sinalização de redução da taxa básica, que está estacionada nos 13,75% desde agosto de 2022.
Enquanto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) classificou a reunião desta semana como crucial para o início da redução dos juros, a Abrainc, que representa as incorporadoras imobiliárias, disse que o corte da Selic já neste mês é "vital" ao desenvolvimento da economia brasileira. As notas institucionais seguem as declarações dadas ontem ao Estadão pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, de que nenhuma atividade consegue pagar juros tão altos quanto o atual.
Na semana passada, a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza (BVMF:MGLU3), já tinha dito, em apelo feito diretamente ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que os empresários não estão aguentando o aumento das despesas financeiras. "Se você não der um sinal, nós não vamos aguentar", afirmou a empresária do setor de varejo a Campos Neto.
Hoje, em nota assinada por seu presidente, o empresário Josué Gomes da Silva, a Fiesp defendeu que o momento é crucial para o BC iniciar o ciclo de relaxamento monetário e dar fôlego à economia. "Nada justifica o Brasil seguir com o título de campeão mundial de juros reais", assinalou a entidade que representa a indústria paulista, acrescentando que o remédio usado para conter a inflação tornou-se um veneno no contexto de demanda fraca.
Após citar a desinflação exibida por índices de preços, a Fiesp frisa em seu posicionamento que os juros altos, por serem "despropositados", empobrecem o País. "Famílias e empresas estão endividadas e o crédito está caro e escasso. Esse ambiente hostil compromete o futuro do Brasil", frisou a entidade.
A Abrainc, por sua vez, observou que os juros altos inibem investimentos e comprometem a geração de empregos, prejudicando, principalmente, a população de menor renda. Da mesma forma, acrescenta, o atual patamar da Selic torna inviável a compra de imóveis por milhares de famílias, comprometendo o desempenho de um setor que gera 10% dos empregos formais no Brasil.
Ao explicar como os juros atingem o mercado imobiliário, a Abrainc explica que uma família com renda mensal de até R$ 10 mil, que antes conseguiria comprar um imóvel financiado de R$ 470 mil, agora só pode adquirir um imóvel de até R$ 370 mil. Com os juros altos, as parcelas do financiamento imobiliário subiram 23%.