Por Yimou Lee
TAIPEI (Reuters) - Um grande aumento de salário, oito viagens gratuitas por ano e um apartamento altamente subsidiado. Era uma oferta de emprego dos sonhos que um engenheiro taiuanês simplesmente não poderia recusar.
Veterano de fabricantes taiuanesas de chips, incluindo a United Microelectronics (UMC), o engenheiro aceitou a oferta de uma fabricante de chips apoiada pelo governo chinês no ano passado e agora supervisiona uma pequena equipe em uma empresa no país.
O engenheiro juntou-se a um crescente grupo de profissionais experientes de Taiwan trabalhando na indústria de rápido desenvolvimento de semicondutores da China.
Atrair tal talento de Taiwan tem se tornado uma parte importante de um esforço da China para engatar a indústria e reduzir a dependência do país de empresas estrangeiras de chips que alimentam tudo, de smartphones a satélites militares.
Esse impulso, que começou em 2014, foi intensificado este ano, com o escalonamento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, de acordo com recrutadores e fontes do setor, expondo que a China sente um excesso de dependência de chips feitos no exterior.
A China importou o equivalente a 260 bilhões de dólares de semicondutores em 2017, mais que suas importações de petróleo. Chips feitos localmente responderam por menos de 20 por cento da demanda doméstica no mesmo ano, de acordo com associação do setor no país asiático.
Mais de 300 engenheiros experientes de Taiwan se mudaram para trabalhar em fabricantes de chips chinesas este ano, juntando-se a quase outros 1 mil que se realocaram desde que Pequim lançou um fundo de 22 bilhões de dólares para desenvolver a indústria de chips em 2014, de acordo com estimativas da H&L Management Consultants, uma empresa de recrutamento sediada em Taipei.
A batalha por engenheiros qualificados levantou preocupações em Taiwan de que a ilha poderia perder um importante motor econômico para seu inimigo político, a China. Analistas dizem que a China ainda está anos atrás de Taiwan em termos de modelos e fabricação de chips, entretanto, ainda que avance em termos de produção de chips mais simples.
Os planos para semicondutores da China aceleraram este ano após os EUA banirem a venda de chips para a empresa de telefonia chinesa ZTE, disseram autoridades familiarizadas com o assunto em abril.
Tarifas impostas por Washington sobre o equivalente a 16 bilhões de dólares de importações da China atingiram semicondutores do país asiático, que agora estão sujeitos a tarifas de 25 por cento.
A medida vai tornar os chips chineses menos competitivos em relação aos fabricados em Taiwan e na Coreia do Sul e pode atrapalhar as ambições da China para o setor de semicondutores. Pequim planeja atender a pelo menos 40 por cento demanda local por semicondutores até 2025.
Revelando a falta de talentos, duas instituições estatais disseram em agosto que cerca de 400 mil profissionais estavam trabalhando no setor de circuito integrado ao final de 2017, muito inferior à estimativa de 720 mil funcionários necessários até 2020.
Embora a China também tenha visado engenheiros da Coreia do Sul e do Japão para lidar com essa escassez de mão de obra, o maior sucesso foi obtido em Taiwan, devido ao idioma e à cultura em comum, dizem recrutadores.
Lin Yu-Hsuan, gerente na empresa de recrutamento H&L, disse que engenheiros de Taiwan eram atraídos por altos salários, benefícios e posições mais relevantes nas fabricantes chinesas de chips, como a Semiconductor Manufacturing International (SMIC), que foram inundadas com recursos do bilionário fundo de chips da China.
"Muitos deles disseram: 'o dinheiro que eu vou ganhar na China em três anos é equivalente ao que eu poderia ganhar em Taiwan em dez anos. Eu poderia me aposentar mais cedo.'", disse Lin.
Steve Wang, vice-presidente do conselho e presidente da Novatek Microelectronics, uma designer integrada taiuanesa de chips, disse que um percentual pequeno de seus funcionários se mudaram para a China ao longo dos últimos dois anos e reconheceu que seria difícil igualar ofertas de rivais chinesas.
Um engenheiro da fabricante de chips, que se recusou a ser nomeado uma vez que os detalhes de seu contrato não são públicos, disse que seu empregador chinês ofereceu um apartamento novo de três quartos com um desconto de 40 por cento perante a condição de que ele trabalhasse para a empresa por mais de cinco anos, além de um aumento de salários de 50 por cento. Ele não forneceu o número exato.
"A China ousa queimar dinheiro, enquanto empresas de Taiwan têm recursos limitados", disse ele.
(Reportagem adicional de Cate Cadell em Pequim e Ju-min Park em Seul)