SÃO PAULO (Reuters) - Banqueiros sul-coreanos temem que a Apple possa boicotar o mercado de dívida do país após um jornal local ter revelado que a companhia norte-americana recentemente tentou investir parte de seu vasto caixa em uma transação financeira envolvendo um banco local.
O The Maeil Business publicou em 12 de outubro que a Apple teria apresentado ordem de compra de bônus denominados em dólar do KEB Hana, um dos maiores bancos da Coreia do Sul em termos de ativos, mas o emissor teria optado por não aceitar a proposta. A reportagem teria enfurecido banqueiros sul-coreanos, que dizem que a Apple mostrou-se "extremamente sensível" em revelar como administra seu capital.
"Esse não é um problema pequeno. A Apple pode parar completamente de comprar bônus sul-coreanos”, afirmou um executivo de banco de investimento local, que não participou do acordo com o KEB Hana. Duas fontes próximas da discussão informaram ao IFR, serviço da Thomson Reuters, que a Apple teria feito a ordem de compra para bonus de três anos do KEB Hana no dia 11 de outubro em cerca de 90 pontos-base acima dos títulos da dívida norte-americana (Treasuries).
O jornal The Maeil Business posteriormente revisou o artigo, eliminando a menção à Apple. A reportagem citou ainda o JP Morgan Asset Management e o banco central da Noruega como participantes do acordo.
O banco sul-coreano começou a negociar os títulos com vencimento em 2019 em torno de 95 pontos-base acima dos títulos do Tesouro norte-americano e, mais tarde, teria adotado um spread mais justo de 85 pontos-base, a fim de levantar 350 milhões de dólares.
A Apple não participou do preço final. Conforme fontes, 31 por cento dos títulos de três anos negociados pelo KEB Hana foram destinados a investidores norte-americanos, incluindo a Oracle e o eBay. O banco sul-coreano também disponibilizou papéis com vencimento em cinco anos a cerca de 150 pontos-base acima do Tesouro norte-americano antes de oferecer uma tranche de 300 milhões de dólares a um spread de 95 pontos-base.
Preocupações sobre a reação da Apple decorrem de um caso similar ocorrido em 2014, quando um executivo da Hyundai Capital Services disse a repórteres que a Apple teria participado de sua recente emissão de bônus com vencimento em três anos no valor de 500 milhões de dólares.
A revelação, na época, aborreceu a Apple a ponto de a empresa norte-americana se recusar a participar de qualquer futura emissão da empresa. "A Apple nunca mais comprou títulos da Hyundai Capital”, lembrou um banqueiro próximo da Hyundai.
Representantes da Apple não comentaram o assunto.
A Apple tinha até 24 de setembro acumulado caixa de 238 bilhões de dólares, o que torna a empresa a maior investidora corporativa do mundo.
Como a Apple administra este caixa tem sido um ponto de atrito com acionistas, que têm exigido que a empresa distribua dividendos maiores.
(Por Frances Yoon)