ROMA (Reuters) - Cerca de 60 por cento da população votante da Itália votou neste domingo em um referendo sobre a reforma constitucional que decidirá o futuro político do primeiro-ministro Matteo Renzi, que prometeu renunciar se perder.
Os mercados financeiros e os políticos europeus temem que uma vitória do 'não' possa causar instabilidade política e renovar a turbulência para os bancos da Itália, levando a zona do euro a uma nova crise.
Cerca de 51 milhões de italianos são elegíveis para votar no plano de Renzi de reduzir drasticamente o papel da câmara alta do Senado e recuperar os poderes de autoridades regionais.
Às 19h (horário local), mais de 57 por cento dos italianos tinham ido às urnas, disse o ministério do Interior, acima dos 42 por cento registrados no mesmo horário nas eleições para o parlamento europeu de maio de 2014, quando o partido democrata de Renzi recebeu grande apoio.
Regiões do sul, que abrigam mais de um terço do eleitorado, mais uma vez registraram os números mais baixos de participação, enquanto os eleitores na região central da Emilia Romagna, tradicionalmente alinhada à esquerda, foram os mais ativos, de acordo com os números divulgados mais cedo.
Os italianos residentes no exterior votaram pelos correios nos últimos dias e as urnas foram levadas para um hangar nos arredores de Roma.
Com todos os partidos de oposição posicionados contra a reforma, uma vitória de Renzi seria uma surpresa e representaria um enorme triunfo pessoal para o jovem primeiro-ministro, que muitas vezes pareceu estar lutando na campanha sozinho.
Renzi, de 41 anos, votou no meio da manhã em sua cidade natal toscana de Pontassieve, mas não fez comentários.
Em várias cidades, incluindo Florença, houve atrasos depois que cidadãos informaram que os lápis usados para marcar a cédula poderiam ser apagados. O ministério do Interior disse que todos os 80 mil lápis distribuídos eram inapagáveis.
Todas as pesquisas publicadas no mês anterior a um bloqueio ser imposto em 18 de novembro colocavam o campo do 'não' à frente. Pesquisas privadas continuaram sendo conduzidas nas últimas duas semanas e casas de aposta dizem que o 'não' continua sendo o favorito.
No entanto, nos últimos dias de campanha frenética, Renzi insistiu que o humor do público estava mudando, focando sua atenção nos milhões de italianos que afirmaram estar indecisos.
Embora o referendo não precise de um quórum para ser válido, a participação, esperada para entre 50 a 60 por cento, pode ser crucial. Institutos de pesquisa dizem que uma baixa participação pode favorecer Renzi, uma vez que a hostilidade à sua reforma é mais forte entre jovens eleitores e aqueles do sul pobre, mais relutantes a votar.
Uma participação acima de 60 por cento também poderia tornar o resultado mais imprevisível, por sugerir que muitos eleitores que afirmaram pretender se abster acabaram indo às urnas.
Com apostas sugerindo cerca de 75 por cento de chance da vitória do 'não', a especulação é grande sobre o que Renzi fará no caso de derrota.
Espera-se que ele renuncie e ele já afirmou que não tomará parte em nenhum governo "técnico" não eleito que o presidente Sergio Mattarella possa tentar colocar em vigor. Alguns de seus aliados pediram que ele fique no poder independentemente do resultado.
"Eu votei 'sim'. Eu realmente já estou cheio dessas contínuas mudanças de governo. Renzi não é o melhor, mas os outros não são melhores. Mas provavelmente o 'não' irá vencer", disse Giorgio Valentini após votar em Roma pela manhã.
O ministro da Economia, Pier Carlo Padoan, procurou acalmar os nervosos mercados na sexta-feira, dizendo que "não há risco de terremoto financeiro" caso o 'não' vença, apesar de poder haver "48 horas de turbulência".
O nervosismo do mercado tem se concentrado nos bancos italianos, sobrecarregados com 360 bilhões de euros em empréstimos de má qualidade, e mais especificamente no Monte Dei Paschi di Siena , seu mais antigo e terceiro maior credor.
O banco precisa levantar 5 bilhões de euros até o final do ano para conter um déficit de capital ou corre o risco de ser derrubado. Autoridades do governo dizem que investidores potenciais podem ser detidos pela instabilidade política caso o 'não' vença.
(Por Gavin Jones)