Por Francesco Guarascio e Elvira Pollina
(Reuters) - Governos europeus estão trabalhando com os Estados Unidos em planos para reformar a Organização Mundial da Saúde (OMS), disse uma autoridade de saúde de alto escalão de um país da Europa, sinalizando que o continente compartilha algumas das preocupações que levaram Washington a dizer que se desfiliará da entidade.
A autoridade de saúde europeia, que falou sob condição de anonimato enquanto debatia iniciativas que não são de conhecimento público, disse que Reino Unido, França, Alemanha e Itália estão debatendo reformas de nível técnico na OMS com os EUA.
O objetivo, disse o funcionário, é garantir a independência da OMS, uma referência aparente a alegações de que a entidade esteve próxima demais da China durante sua reação inicial à crise do coronavírus no início deste ano.
"Estamos debatendo maneiras de separar o mecanismo de administração de emergências da OMS da influência de qualquer país em particular", disse a autoridade.
Reformas envolveriam uma mudança no sistema de financiamento da OMS para que ele seja de mais longo prazo, disse a fonte. Hoje a agência opera com um orçamento bienal, o que "poderia prejudicar a independência da OMS" se ela tiver que arrecadar fundos de países doadores no meio de uma emergência, explicou a autoridade.
O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou a OMS de ser próxima demais da China e anunciou planos de suspender o financiamento de sua nação e tirá-la da entidade.
Países europeus pediram uma reforma da OMS em algumas ocasiões, mas em geral tem blindado a organização das críticas mais intensas de Washington. Em público, a posição europeia tem sido em geral a de que qualquer reforma só deveria vir após uma avaliação da reação à crise do coronavírus.
Mas minutas de uma reunião por videoconferência de ministros da Saúde da União Europeia ocorrida na semana passada levaram a crer que os países europeus estão adotando uma postura mais dura e também buscando mais influência europeia na OMS no futuro. Os ministros alemão e francês disseram aos seus colegas que "uma avaliação e reforma da OMS é necessária", como mostraram as minutas.
Tratou-se de um palavreado mais contundente do que aquele de uma resolução que a UE esboçou no mês passado e que foi adotada por todas as 192 nações integrantes da OMS. A resolução pediu uma avaliação da reação à crise do coronavírus, mas não chegou a pedir reformas.
A UE e seus governos proporcionaram cerca de 11% do orçamento de 5,6 bilhões de dólares da OMS para o período de 2018-19, os EUA mais de 15% e a China só 0,2%.
(Por Francesco Guarascio em Bruxelas; reportagem adicional de Elvira Pollina em Milão, Andreas Rinke em Berlim e Matthias Blamont em Paris)
((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447759)) REUTERS ES