Por Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - Um rapper que compareceu a uma festa de celebridades usando apenas uma meia para esconder suas partes íntimas foi preso por 15 dias, patrocinadores de alguns dos artistas mais conhecidos da Rússia rescindiram seus contratos e o presidente russo, Vladimir Putin, não teria ficado satisfeito com o evento.
Uma festa “seminua” em uma casa noturna de Moscou, realizada em um momento em que a Rússia está envolvida em uma guerra com a Ucrânia e as autoridades promovem uma agenda social cada vez mais conservadora, provocou uma reação incomum, rápida e poderosa.
Um videoclipe do porta-voz de Putin ouvindo uma explicação de uma das estrelas presentes está circulando online. O Baza, um veículo de comunicação conhecido pelos seus contatos nos serviços de segurança, informou que as tropas que lutavam na Ucrânia foram das primeiras a se queixar depois de verem as imagens, e que as fotografias do evento chegaram a Putin, o deixando desapontado.
Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, pediu na quarta-feira aos jornalistas que o perdoassem por não comentar publicamente o crescente escândalo, dizendo: "Deixemos que vocês e eu sejamos os únicos no país que não estão discutindo este assunto".
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, disse que o evento “manchou” os participantes, mas que agora eles tinham a chance de trabalhar sobre si mesmos, segundo o veículo de comunicação Ura.ru.
A feroz reação das autoridades, de parlamentares e blogueiros pró-Kremlin, da imprensa estatal e de grupos da Igreja Ortodoxa tem dominado as manchetes há dias, deslocando histórias sobre o aumento dos preços dos ovos e permitindo, em vez disso, que as pessoas desabafassem protestando contra a elite do show business do país.
A festa, na boate Mutabor, em Moscou, foi organizada pela blogueira Anastasia (Nastya) Ivleeva e contou com a presença de cantores conhecidos, que têm sido presença constante nos programas de entretenimento da TV estatal há anos, em roupas íntimas ou em trajes minúsculos.
Ivleeva, que desde então se tornou um dos nomes mais reconhecidos da Rússia, é vista em um clipe exibindo uma corrente cravejada de esmeraldas em suas costas, no valor de 23 milhões de rublos (251 mil dólares), em um momento em que alguns russos estão lutando para sobreviver.
Desde então, ela publicou dois vídeos públicos de desculpas pelo evento, que aconteceu entre 20 e 21 de dezembro.
No segundo pedido de desculpas choroso, divulgado na quarta-feira, Ivleeva disse que se arrependia de suas ações e merecia tudo o que recebeu, mas esperava que pudesse ter “uma segunda chance”.
Desde então, seu nome desapareceu como um dos rostos públicos da grande operadora de telefonia móvel russa MTS, as autoridades fiscais abriram uma investigação que pode acarretar em uma potencial pena de prisão de cinco anos e um tribunal de Moscou aceitou uma ação judicial de um grupo de indivíduos exigindo que ela pague 1 bilhão de rublos (10,9 milhões de dólares) por “sofrimento moral”.
Se tiverem sucesso, o grupo quer que o dinheiro vá para um fundo estatal que apoia os veteranos de guerra da Ucrânia.
O escândalo surge em um momento em que Putin, que deve conquistar confortavelmente outro mandato de seis anos nas eleições de março, redobrou o conservadorismo social, exortando as famílias a terem oito ou mais filhos, e depois de a Suprema Corte da Rússia ter decidido que os ativistas LGBT deveriam ser designados como “extremistas”.
Nikolai Vasilyev, um rapper conhecido como Vacio que compareceu vestindo apenas uma meia para cobrir o pênis, foi preso por um tribunal de Moscou por 15 dias e multado em 200 mil rublos (2.182 dólares) por propaganda de “relações sexuais não tradicionais”.
(Reportagem de Andrew Osborn)