Por David Lawder
WASHINGTON (Reuters) - A guerra na Ucrânia está levando o Fundo Monetário Internacional a cortar as estimativas de crescimento global para 2022 e 2023, uma vez que os preços mais altos de alimentos e energia pressionam economias frágeis, disse a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, nesta quinta-feira.
Georgieva disse em discurso "preparatório" para as reuniões do FMI e do Banco Mundial da próxima semana que o fundo rebaixará suas perspectivas de crescimento para 143 economias que representam 86% da produção econômica global, mas disse que a maioria dos países seguirá com a atividade em território positivo.
Georgieva, que já havia alertado que a guerra iria arrastar o crescimento neste ano, disse que a invasão da Ucrânia pela Rússia está "enviando ondas de choque por todo o mundo" e causando um grande revés para países que lutam para se recuperar da pandemia de Covid-19 ainda em andamento.
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"Para simplificar, estamos enfrentando uma crise em cima de uma crise", disse Georgieva em comentários ao Carnegie Endowment for International Peace, em Washington. "Em termos econômicos, o crescimento está baixo e a inflação está alta. Em termos humanos, a renda das pessoas está baixa e as dificuldades estão aumentando."
O FMI, que divulgará novas previsões econômicas na terça-feira, antecipa que a inflação, agora um "perigo claro e presente" para muitas economias, permanecerá elevada por mais tempo do que o esperado anteriormente.
Georgieva não forneceu um número específico para o crescimento global, mas disse anteriormente que seria inferior aos 4,4% que o FMI previu em janeiro, um número já reduzido em meio ponto percentual devido a interrupções persistentes na cadeia de suprimentos causadas pela pandemia.
"Desde então, a perspectiva se deteriorou substancialmente, em grande parte por causa da guerra e suas repercussões", disse ela. “Inflação, aperto financeiro e lockdowns frequentes e abrangentes na China --causando novos gargalos nas cadeias de abastecimento globais-- também estão pesando na atividade.”
AMEAÇA DE FRAGMENTAÇÃO
Georgieva também alertou para uma nova complicação importante, a fragmentação da economia global em blocos geopolíticos, com diferentes padrões de comércio e tecnologia, sistemas de pagamento e moedas de reserva.
Georgieva disse que essa fragmentação é a maior ameaça à ordem econômica pós-Segunda Guerra Mundial.
"Tal mudança tectônica incorreria em custos de ajuste dolorosos. Cadeias de suprimentos, pesquisa e desenvolvimento e redes de produção seriam quebradas e precisariam ser reconstruídas", disse ela. "Países pobres e pessoas pobres sofrerão o maior impacto desses deslocamentos."
A mudança já está prejudicando a capacidade do mundo de trabalhar em conjunto para resolver a guerra na Ucrânia e as crises da Covid-19, e ameaça inviabilizar a cooperação sobre mudanças climáticas e outros desafios, disse ela.
Georgieva disse que a insegurança alimentar é uma "grave preocupação" por causa da interrupção no fornecimento de grãos e fertilizantes da Ucrânia, Rússia e Belarus, pressionando os países mais fracos. Sem ação em um plano multilateral para reforçar o abastecimento de alimentos, muitos países enfrentarão mais fome, pobreza e inquietação social.