Por Tuvan Gumrukcu e Huseyin Hayatsever
ANCARA (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, em seus comentários mais fortes sobre o conflito em Gaza, disse nesta quarta-feira que o grupo militante palestino Hamas não é uma organização terrorista, mas um grupo de libertação que luta para proteger as terras palestinas.
A Turquia, membro da Otan, condenou as mortes de civis causadas pelo ataque do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, mas também pediu às forças israelenses que ajam com moderação em sua resposta. Ancara criticou duramente o bombardeio de Israel em Gaza.
"O Hamas não é uma organização terrorista, é um grupo de libertação, 'mujahideen' travando uma batalha para proteger suas terras e seu povo", disse ele aos parlamentares de seu partido governista AK, usando uma palavra árabe que denota aqueles que lutam por sua fé.
Ao contrário de muitos de seus aliados da Otan e da União Europeia, a Turquia não considera o Hamas uma organização terrorista e hospeda membros do grupo em seu território. Ancara apoia uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino que já dura décadas.
Erdogan também criticou as potências ocidentais por apoiarem os bombardeios israelenses em Gaza e pediu um cessar-fogo imediato, a entrada desimpedida de ajuda humanitária em Gaza e que os países muçulmanos trabalhem juntos para acabar com a violência.
"Os autores do massacre e da destruição que está ocorrendo em Gaza são aqueles que dão apoio ilimitado a Israel", disse Erdogan. "Os ataques de Israel a Gaza, tanto para ele mesmo quanto para aqueles que os apoiam, equivalem a assassinato e doença mental."
Israel rejeitou a descrição de Erdogan sobre o Hamas, com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lior Haiat, chamando o grupo de "uma organização terrorista desprezível".
"Mesmo a tentativa do presidente turco de defender a organização terrorista e suas palavras incitadoras não mudarão os horrores que o mundo inteiro viu", escreveu Haiat na plataforma de mídia social X.
Os combates em Gaza ocorrem em um momento em que a Turquia está trabalhando para melhorar seus laços com Israel depois de anos de acrimônia, concentrando-se na energia como uma área de cooperação.
Indicando que esses esforços de normalização foram suspensos, Erdogan acusou Israel de tirar vantagem das "boas intenções" da Turquia e disse que havia cancelado uma visita planejada anteriormente a Israel.
"Apertei a mão desse homem chamado Netanyahu uma única vez na vida", disse Erdogan, referindo-se ao seu encontro com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nos bastidores da Assembleia Geral da ONU no mês passado.
"Se ele (Netanyahu) tivesse continuado com boas intenções, nossas relações poderiam ter sido diferentes, mas agora, infelizmente, isso também não acontecerá porque eles se aproveitaram de nossas boas intenções", acrescentou.