Num mercado de baixíssima volatilidade, vamos andar.......
Andar faz bem, e nos mantém antenados com o que acontece ao nosso redor.
Sexta-feira última, dia 23, entrei numa galeria no bairro de Ipanema no Rio de Janeiro.
Ipanema, todo mundo sabe, é aquele bairro do Rio de Janeiro, onde só se vê gente bonita, lojas bonitas, super decoradas e, principalmente, produtos caros, muito caros.
Caro, na verdade, não é mais particularidade de Ipanema no Brasil de hoje.
Tudo no Brasil é caro, tudo, em todos os bairros e lugares, com exceções em lugares distantes, muito distantes do eixo metropolitano.
Lá estava eu sentado num banco de madeira em frente a uma loja de produtos naturais a olhar o movimento, mulheres bonitas, enfim, e quando da minha surpresa 2 mulheres sentam e começam a comer 2 salgados e 2 latas de 200 ml de coca-cola.
Sim ! Sabem aquelas latinhas pequenas de 200 ml que a Coca-Cola lançou ?
Pois é , do ponto de vista de marketing, parece acertada a decisão da Coca-Cola lançar no Brasil essa minúscula latinha, já que muita gente comprava as marcas "desconhecidas" por um valor baixo, já que a lata tradicional da gigante Coca-Cola subia de preço mês após mês.
Ou seja, a idéia seria atingir um público que prefiriria comprar uma "COCA-COLA" desde que fosse num preço "acessível".
Mas daí o público de Ipanema comprar uma latinha de 200 ml e não a lata de 350 ml ?
Pois é.......é fato que a inflação brasileira em curso já atinge uma classe "mais abastada". O orçamento da família brasileira se vê às voltas talvez com a mais profunda perda de poder aquisitivo dos últimos 10 anos.
Essa perda se refletirá no médio e longo prazo numa série de rearrumações orçamentárias, isto é, corta-se aqui pra pagar ali e assim sucessivamente.
Segmentos oligoplizados sofrerão menos, e , paradoxalmente, ajudarão a amenizar a queda da inflação, justamente por "poderem impor" preços maiores por um bom tempo. Exemplo mais emblemático no Brasil é a disparada das ações da AMBEV.
O tamanho das consequências é impossivel de prever; no entanto, será mais acentuado à medida que outras variáveis e/ou elementos macroecônomicos sejam atingidos, como o câmbio e exportações, principalmente.
O mercado financeiro vive de números, gráficos.
Já rompemos 60 mil pontos bo BOVESPA. Rompemos 66.500, falta romper 70 mil pra buscar 73 mil e o tão sonhado 73.900.
Pra baixo, 63.900 é um número que nos levaria a pensar nos 60 k e depois nos 55k.
Temos no índice petróleo, minério de ferro, commodities em geral, bancos, construtoras e comércio.
Mercados oligopolizados, e outros nem tanto.
Por outro lado, temos no Brasil inúmeras aberrações.
Sento num café, e me cobram R$ 4,30 por um café expresso.
Abro o jornal e vejo anúncios de apartamento de 60 m2 a 50 km do centro do Rio de Janeiro por R$ 400 mil.
Um quarto é oferecido na favela da Rocinha por R$ 600 o aluguel mensal; sim 1 quarto, apenas o quarto, por R$ 600 mensais !
Olho pro lado e os brasileiros se "atolam" de compras em Miami e Nova York, por conta de um real sobrevalorizado.
Paro meu carro no centro do Rio de Janeiro e o estacionamento me cobra R$ 13 por 1 hora.
Tudo no Brasil está "fora do lugar".
A lata de 200 ml de coca-cola em Ipanema é apenas um sintoma.
A liquidez produzida pelos Bancos Centrais do mundo ao injetarem cerca de 1 trilhão de Euros ajudou a esconder a realidade e a intensificar as distorções.
No entanto, uma hora, o brasileiro irá acordar, tomar um café no Leblon, uma cerveja na quadra da Portela em Madureira, ou andar no Parque do Ibirapuera em São Paulo e chegar a conclusão que "as coisas não batem".
Mais cedo ou mais tarde, alguém vai pagar.....
Os bancos com uma disparada da inadimplência, as construtoras com uma nova realidade dos ativos, o comércio com menores margens ou as mineradoras com a queda das exportações.
Ou todos irão pagar.