Investing.com - O petróleo operava em queda no início da tarde desta quinta-feira, 21, com o barril de WTI, referência nos EUA, recuando 0,58%, a US$ 73,75, enquanto o de Brent, referência mundial e para a Petrobras (BVMF:PETR4), caía 0,56%, a US$ 79,20 no mercado futuro. Para 2024, especialistas do setor já traçam projeções para o que esperar da commodity.
Michael Salden, diretor de commodities da Vontobel (SIX:VONN), destaca que "a realidade é que o mercado continua com excesso de oferta de petróleo e reagiu negativamente tanto ao corte de produção da Opep quanto ao aumento dos conflitos no Oriente Médio".
"Por enquanto, as tensões em Gaza estão contidas e não impactaram o comércio global de petróleo. Nesse contexto, o prêmio de risco geopolítico do petróleo e do ouro se dissipou e o petróleo recuou dos níveis de mais de US$ 90 para os de mais de US$ 70 (WTI)", enfatiza o especialista.
O que pode piorar a situação?
Nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes aprovou a lei SHIP (Stop Harbouring Iranian Petroleum Act), que impõe novas sanções às entidades envolvidas no transporte de petróleo iraniano e exige que a Administração apresente um relatório anual ao Congresso sobre as exportações do Irã e seu comércio de petróleo com a China. "Nesse caso, também se pode mirar diretamente os portos internacionais e os intermediários que apoiam os fluxos iranianos. Há uma alta probabilidade de que essa lei seja implementada pela atual administração, reduzindo o fluxo de exportações de petróleo iraniano para a Ásia com grandes descontos", afirma Salden.
"É importante também levar em conta que os EUA estão entrando em um ano eleitoral, o que poderia justificar por que os EUA deram certo alívio às exportações da Venezuela. Isso mostra que o governo americano se empenha em usar vários recursos para manter sob controle os preços da gasolina nos postos", acrescenta.
Há uma expectativa de queda na demanda por commodities?
A demanda por commodities segue em alta mesmo em um cenário de baixo crescimento, diz Salden. "Isso significa que o crescimento populacional e o aumento da renda nos países fora da OCDE mais do que compensam a fraqueza da tendência do PIB europeu", conclui o especialista.
Salden aponta ainda que, no decorrer deste ano, houve um aumento significativo na demanda por petróleo, atingindo um acréscimo de cerca de 2,5 milhões de barris diários em relação ao ano anterior, equivalente a um crescimento anual de 2,3%. Para o próximo ano, a expectativa é que essa demanda ultrapasse os 0,7 milhão de barris diários. Apesar da visão otimista da Opep, que prevê um consumo de 2,4 milhões de barris diários também para 2024, a China continua sendo o principal impulsionador dessa demanda. Em face do crescimento modesto da China, espera-se a implementação de mais medidas de estímulo para alcançar a meta de crescimento de 5%.
Salden também aborda as causas da recente queda nos preços do petróleo:
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A diminuição da prima de risco geopolítico.
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As importações robustas de petróleo pela China neste ano, embora permaneça a dúvida sobre até que ponto o país está se aproveitando das exportações econômicas de Irã e Rússia.
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A baixa nas exportações da Opep e da Rússia durante o verão, que impactou os estoques globais de gasolina. No entanto, prevê-se um aumento futuro dessas exportações, principalmente da Arábia Saudita, à medida que a demanda interna sazonal diminui.
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A produção de países não membros da Opep, como EUA, Canadá, Guiana, Brasil e Nigéria, que superou as expectativas.
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A alta capacidade excedentária dos membros da Opep e da Rússia, cerca de 5 milhões de barris diários, que traz riscos de desvios nas cotas estabelecidas.
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A expectativa de que a Arábia Saudita e a Rússia estendam os cortes de produção até o segundo trimestre de 2024, mantendo a estabilidade do mercado.
Posicionamento dos investidores
Salden ressalta que há uma tendência pessimista em relação ao petróleo, criando espaço para um aumento nos preços em caso de interrupções na produção, tensões geopolíticas ou cortes adicionais pela Arábia Saudita. Ele observa que o mercado já está contando com a manutenção dos cortes de produção da Arábia Saudita em 1 milhão de barris por dia durante o primeiro semestre de 2024, e possivelmente uma redução para meio milhão de barris no segundo semestre. A manutenção dos níveis atuais de produção da Opep+ no primeiro trimestre de 2024 é vista como viável, o que ajudaria a equilibrar o mercado e manter os preços em torno de US$ 80.