SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano e retirou de seu comunicado a expressão de que não há espaço para corte de juros, usada nos últimos meses, o que pode alimentar apostas de que a flexibilização pode estar mais próxima do que o esperado.
No lugar, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC disse que "uma flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação nos horizontes relevantes para a condução da política monetária, em particular da meta de 4,5 por cento em 2017".
O Copom acrescentou que pelo cenário de referência a projeção para a inflação de 2017 continua em torno de 4,5 por cento e, pelo cenário de mercado, recuou a 5,1 por cento, sobre 5,3 por cento antes.
Em pesquisa Reuters, todos os 39 economistas consultados previram que o BC manteria a Selic neste patamar desde julho de 2015.
"Parece um BC mais construtivo e enxergando uma luz no fim do túnel", afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. "Ele pode preparar, a depender dos dados, um corte de juros em outubro (no próximo encontro do Copom)", acrescentou a economista.
A expectativa dos agentes econômicos era, de modo geral, que o BC cortasse juros em novembro, no último encontro do Copom do ano. Segundo o Focus, que ouve uma centena de economistas toda semana, a expectativa é que a Selic feche 2016 a 13,75 por cento ao ano --com corte de 0,5 ponto em novembro-- e a 11,25 por cento em 2017.
O BC vinha apontando que não havia espaço para cortar os juros diante do cenário de inflação, marcado sobretudo pela pressão nos preços de alimentos, incerteza sobre resoluções no fronte fiscal e possibilidade de reforço em mecanismos inerciais em função da permanência da inflação em nível elevado.
Na decisão de agora, o BC ressaltou que índices de preços no atacado já indicam "possível arrefecimento do choque de preços de alimentos e um eventual efeito favorável sobre o IPCA". Além disso, vê que os ajustes na economia podem ser implementados de forma mais rápida, melhorando a confiança e reduzindo as expectativas de inflação. Também destacou que o nível de ociosidade na economia pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom.
Do outro lado, ainda reconheceu que a inflação está acima do esperado no curto prazo, que há incertezas sobre a aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia e que o período longo de inflação elevada pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação.
O IPCA-15, prévia da inflação oficial do país, subiu 8,95 por cento em 12 meses até agosto, muito acima da meta de inflação para este ano --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Pelo Focus, as estimativas para a inflação são de 7,34 por cento neste ano e de 5,14 por cento em 2017.
(Por Patrícia Duarte)