Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Em um mês de início da Copa do Mundo e promoções da Black Friday, economistas esperam que o indicador oficial de inflação continue em alta em novembro, possivelmente levando a mais um ano de estouro da meta. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesta sexta-feira, 09. Após três meses de deflação, o IPCA avançou 0,59% em outubro, atingindo 6,47% em doze meses. A média das estimativas de analistas compiladas pelo Investing.com é de uma alta de 0,55% no mês de novembro, levando o indicador anual a 6,01%.
Nesta quarta-feira, 07, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa de juros no patamar atual, em 13,75%, visando trazer o IPCA à meta de 3,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com tolerância de um ponto e meio percentual para mais ou para menos.
Considerado a prévia da inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de novembro foi de 0,53%, 0,37 ponto percentual (p.p.) acima do registrado no mês de outubro, em 0,16%. Segundo o IBGE, o IPCA-15 acumula alta de 5,35% neste ano. Em doze meses, a elevação é de 6,17%.
O que pode pesar no indicador
A XP Investimentos (BVMF:XPBR31) projeta uma variação mensal de 0,5%. De acordo com Tatiana Nogueira, economista da XP, a prévia já havia mostrado aceleração na inflação de alimentos. “Já a alimentação fora de casa e artigos de residência devem mostrar deflação por causa dos efeitos da Black Friday. Os descontos acabam impactando no mês fechado. Mas esses efeitos na inflação vão ser menores neste ano do que foram nos anos anteriores”, detalha. O início da Copa do Mundo afetou esse resultado, pondera a economista.
O BTG (BVMF:BPAC11) estima alta mensal de 0,59% em novembro. Álvaro Frasson, economista do banco, avalia que a taxa de inflação é mais branda do que nos últimos doze meses, com impactos nos preços administrados devido às isenções fiscais aprovadas pelo governo. “Quando olhamos os núcleos dos índices de inflação, serviços e preços livres, eles estão acima do IPCA cheio, mostrando que a batalha contra a inflação está longe de ser vencida”, pondera. Sinais de enfraquecimento da economia devem trazer os preços para mais próximo da meta, segundo Frasson, que vê como principais riscos para o ano que vem as mudanças no cenário fiscal.
Para novembro, Mauricio Nakahodo, economista sênior do banco MUFG Brasil, projeta alta de 0,50%. “Esperamos um patamar parecido com IPCA-15. Os destaques seriam combustíveis, com alta, ainda que modesta, e alimentação. Tomate, batata e cebola continuam pressionando. Além disso, a alimentação fora de casa ainda deve impactar, assim como o efeito da Copa do Mundo deve ter pressão também. Por outro lado, há uma questão sazonal. As passagens aéreas devem mostrar baixas importantes e o efeito da Black Friday pode auxiliar em artigos de vestuário”.
Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, acredita que o IPCA mensal deve ser de 0,57%. “O número deve ter uma composição bem agradável para o Banco Central, com serviços baixos a julgar com o que que aconteceu com o IPCA-15, que normalmente é a parte que o Banco Central mais olha. Alimentação e administrados, que são um pouco mais voláteis, puxando para cima. E a parte de industriais no meio a meio”.
Na visão de Igor Cavaca, head de gestão de investimentos da Warren, o indicador de inflação deve ser positivo e afetado pela sazonalidade. A projeção é alta de 0,55% em novembro. “O IPCA tende a não atingir a meta estipulada neste ano. Desde a crise de covid-19, observamos uma série de problemas que afetaram intensamente o lado da oferta na economia mundial. Isso teve por consequência o aumento de preço de uma série de bens e serviços e continuidade de uma oferta menor durante os últimos anos. Em 2022, começamos a observar uma normalização, com redução do preço de uma série de commodities, mesmo com a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia”, detalha. Cavaca considera a atuação da autoridade monetária brasileira como bastante agressiva no cenário contracionista diante da persistência inflacionária. “Já começamos a observar os primeiros efeitos e acreditamos que o patamar de juros atual tem impactado os índices inflacionários. Agora surge no cenário a expectativa do novo governo que pode vir a impactar o nível de preços dos próximos anos”, completa.