Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o resultado da inflação em setembro veio um pouco melhor que o esperado, mas ponderou que as expectativas para este ano devem piorar após o anúncio nesta sexta-feira de aumento no gás e na gasolina.
Ao participar de evento promovido pelo Itaú (SA:ITUB4), ele lembrou que o BC já havia falado que, olhando para o ano, a inflação acumulada em 12 meses deveria ter sua pior leitura em setembro.
O IPCA avançou 1,16% em setembro, de 0,87% em agosto, mas abaixo da projeção em pesquisa da Reuters de um aumento de 1,25%. Em 12 meses, a taxa foi a 10,25%, bem acima da meta de inflação para o ano de 3,75%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Campos Neto frisou que o BC tenta não se prender tanto ao barulho de curto prazo, um alerta que, segundo ele, é simétrico, valendo tanto para quando dados vêm pior do que o esperado como melhor.
Mas ele indicou que o encarecimento do preço de combustíveis deve afetar o canal das expectativas.
"Quando você olha para expectativas de inflação, Brasil teve um grande salto quando você olha para 2021. Isso provavelmente piorará com aumento anunciado hoje para gás e gasolina", disse.
Mais cedo, a Petrobras (SA:PETR4) informou que elevará o preço médio da gasolina e do gás de cozinha nas refinarias em 7,2% a partir de sábado, refletindo a alta do petróleo no mercado externo e o fortalecimento do dólar.
Campos Neto, reconheceu nesta sexta-feira que há hoje muito debate quanto à implementação de um horizonte mais amplo para meta de inflação, mas ressaltou que o BC tem compromisso com o atingimento do objetivo no ano que vem.
"Obviamente, quando você tem inflação alta não é hora de mudar o arcabouço", disse ele.
"A mensagem está clara, estamos olhando para 2022", afirmou.
Pelo seu cenário básico, o BC vê a inflação no próximo ano apenas ligeiramente acima da meta: 3,7% contra alvo central de 3,5%. Já o mercado é mais pessimista e projeta IPCA de 4,14% no ano que vem, segundo o boletim Focus mais recente.
Sobre a contínua elevação para cima das expectativas do mercado para a inflação, Campos Neto afirmou que os ajustes consecutivos parecem estar criando uma inércia nas estimativas.
CÂMBIO
Sobre o comportamento do dólar frente ao real, Campos Neto disse que a percepção é que a moeda brasileira tem se desconectado dos pares quando há "barulho local", em geral sobre o fiscal.
Ele reconheceu que apesar de o país ter apresentado números melhores no front fiscal, há grande incerteza sobre o arcabouço fiscal que vai prevalecer num momento em que o governo se esforça para aprovar a PEC dos Precatórios para abrir caminho para um Bolsa Família mais robusto no ano que vem.
Ele defendeu que as intervenções do BC no mercado cambial são feitas quando o preço está muito longe de fundamentos.
Campos Neto também descartou que o movimento do câmbio no Brasil tenha relação com recursos que não estão sendo repatriados por exportadores.
Ele disse ter visto menções a volumes de 40 bilhões a 50 bilhões de dólares nesse sentido, mas ressaltou que o BC não vê nada perto disso segundo os números que acompanha internamente.