Por Nellie Peyton e Olivia Kumwenda-Mtambo e Bhargav Acharya
Johanesburgo (Reuters) - O presidente Cyril Ramaphosa pediu que os partidos políticos da África do Sul trabalhem juntos para o bem do país, após os resultados finais da eleição da semana passada confirmarem que o seu Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) perdeu a maioria pela primeira vez.
O resultado, anunciado neste domingo, é o pior desempenho eleitoral do ANC - o movimento de libertação mais antigo da África que já foi liderado por Nelson Mandela - desde que chegou ao poder, 30 anos atrás, encerrando o governo da minoria branca.
Os eleitores, irritados com o desemprego, a desigualdade e contínuos apagões, cortaram o apoio ao ANC de 57,5% na eleição parlamentar anterior, em 2019, para 40,2%.
Os resultados oficiais mostraram o ANC levando 159 assentos na Assembleia Nacional, com 400. Anteriormente, tinha 230.
O resultado significa que o ANC agora precisa compartilhar o poder, provavelmente com algum grande adversário político, para mantê-lo -- uma perspectiva sem precedentes na história da África do Sul pós-apartheid.
“Os sul-africanos esperam que os partidos pelos quais eles votaram encontrem um consenso, superem suas diferenças e trabalhem juntos pelo bem de todos. É isso que os sul-africanos disseram”, afirmou Ramaphosa, após a comissão eleitoral anunciar os resultados finais.
Ele disse que a eleição foi uma “vitória para nossa democracia”.
Agora, os partidos políticos têm duas semanas para chegar a um acordo antes do novo parlamento se reunir para escolher um presidente, que provavelmente ainda será do ANC, que continua sendo a principal força.
“É a hora de todos nós colocarmos a África do Sul em primeiro lugar”, afirmou Ramaphosa.
Autoridades do ANC disseram neste domingo que o partido recebeu os resultados com humildade e não “tinha nada a comemorar”, mas mantiveram o apoio a Ramaphosa, que já foi o principal negociador de Mandela para acabar com o apartheid, e disseram que não cederão à pressão para que ele renuncie.
Os resultados fracos alimentaram especulações de que os dias de Ramaphosa podem estar contados, seja por exigência de um possível parceiro de coalizão ou como resultado de uma disputa interna pela liderança.
“Isso não está na mesa”, afirmou o secretário-geral do ANC, Fikile Mbalula, a um briefing de imprensa, o primeiro do partido desde a eleição.
“Cometemos erros? Sim. No governo e em todos os outros aspectos”, disse, acrescentando que o ANC está comprometido a formar um governo “estável e que consiga governar com eficiência”.
Antes da eleição de quarta-feira, o ANC havia vencido todas as eleições nacionais de lavada desde 1994, mas o seu apoio tem diminuído ao longo da última década.
O principal partido de oposição, a Aliança Democrática, pró-negócios e liderado por brancos, recebeu 21,8% dos votos.
O uMkhonto we Sizwe (MK) - “lança da nação”, na língua zulu -, um novo partido liderado pelo ex-presidente Jacob Zuma e batizado em homenagem ao antigo braço armado do ANC, conseguiu levar 14,6% dos votos, causando a maioria dos danos ao ANC.
(Reportagem adicional de Bate Felix e Kopano Gumbi em Joanesburgo e Wendell Roelf na Cidade do Cabo)