Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O ritmo de recuperação da economia tem se revelado muito lento, avaliou nesta quinta-feira a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, apontando que sem a reforma da Previdência o Produto Interno Bruto (PIB) per capita cairá ainda mais em meio a um desempenho já considerado dramático na atual década.
No ano passado, o PIB per capita ficou em 32,7 mil reais. Sem as mudanças nas regras de acesso à aposentadoria, ele cairá a 30,8 mil reais em 2023, ficando estacionado no ano que vem, estimou a SPE. Por outro lado, se a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) for bem-sucedida, o PIB per capita avançará a 33,4 mil reais já em 2019, subindo a 36,6 mil reais em 2023.
Apesar de a economia brasileira figurar entre as 10 maiores do mundo, o PIB per capita não está sequer entre os 60 melhores, ficando próximo ao de países como Guiné Equatorial (SA:EQTL3) e Malásia.
No geral, o desempenho da atividade econômica também tem decepcionado. A despeito do ambiente de juros em mínimas históricas e inflação bem comportada, o PIB fechou 2018 com expansão de apenas 1,1 por cento sobre o ano anterior, repetindo a taxa vista em 2017, depois de contrações de 3,3 e 3,5 por cento, respectivamente, em 2016 e 2015, informou o IBGE nesta quinta-feira. [nL1N20N0M1]
O resultado ficou bem abaixo da decolagem da economia que era esperada no início de 2018 --pesquisa Focus do Banco Central mostra que o mercado chegou a estimar uma taxa de 2,9 por cento em março.
Para a SPE, "não há dúvida" que o país vive uma das piores décadas da sua história em termos de crescimento econômico, comparável apenas à chamada década perdida, nos anos 1980.
"O ritmo de recuperação da atividade econômica após a profunda recessão de 2014-16 tem se revelado muito lento: ao final de 2018, o PIB acumulado em quatro trimestres encontrava-se ainda 4,7 por cento abaixo do nível observado em 2014. Em termos de PIB per capita, o desempenho é ainda pior: o valor de 2018 situou-se 8 por cento abaixo do nível de 2014", disse.
Enquanto a média de crescimento do PIB de 2011 a 2018 está em 0,5 por cento ao ano, para o PIB per capita a média é de -0,3 por cento ao ano, desempenho considerado "dramático" pela SPE por replicar percentual dos anos 1980.
Na década de 1990, o PIB per capital avançou 0,8 por cento ao ano, em média, ao passo que nos anos 2000 o crescimento médio foi de 2,5 por cento ao ano.
A SPE pontuou que a sensível piora vem na esteira do descontrole fiscal, que provocou o crescimento explosivo da dívida pública.
"Além de conter gastos públicos discricionários, eliminar desperdícios e gerir as finanças públicas de forma responsável, há a necessidade de reformas estruturais para conter a evolução da dívida pública. Nesse contexto, a Nova Previdência assume um caráter central no equilíbrio da trajetória das contas públicas", afirmou a secretaria.
(Reportagem adicional de Jamie McGeever)