Ibovespa avança acompanhando exterior; Fleury cai mais de 4%
Por Monica Machicao e Lucinda Elliott
LA PAZ (Reuters) - O ex-presidente conservador Jorge "Tuto" Quiroga está apostando em um ousado plano de resgate econômico para vencer o segundo turno da eleição para a Presidência da Bolívia, marcado para 19 de outubro, quando enfrentará o senador centrista Rodrigo Paz.
Quiroga ficou em segundo lugar, atrás de Paz, no primeiro turno, em 17 de agosto, com 27% dos votos, quando o Movimento ao Socialismo, fundado por Evo Morales, sofreu sua maior derrota em décadas. Nenhum dos dois candidatos conseguiu os 50% necessários para vencer no primeiro turno, provocando o primeiro segundo turno em uma eleição presidencial na Bolívia desde o retorno à democracia em 1982.
Quiroga, 65 anos, figura de longa data da oposição, foi presidente interino de 2001 a 2002. Ele fez campanha com base em promessas de estabilização de uma economia abalada pela inflação -- a mais alta desde a década de 1980 -- e pela diminuição das reservas internacionais.
"O país está falido", disse Quiroga à Reuters em sua casa em La Paz, em agosto. "Precisamos de uma mudança drástica e radical, e pretendo fazê-la."
Quiroga apoia cortes profundos nos gastos públicos e propõe a redução dos subsídios universais aos combustíveis, mantendo-os apenas para o transporte público e grupos vulneráveis. Seu plano econômico inclui o fechamento ou a privatização de empresas estatais deficitárias e a eliminação de ministérios, em uma medida que, segundo ele, reduzirá a burocracia.
No entanto, essas políticas podem alienar a maioria indígena da Bolívia, muitos dos quais se desiludiram com os socialistas, mas permanecem céticos em relação à direita depois de privatizações anteriores que levaram a aumentos acentuados nos preços de serviços básicos. O espectro dos protestos de rua, caso ele vença, pode testar sua determinação.
Quiroga subiu na hierarquia para se tornar ministro da Fazenda em 1992, durante o governo do presidente Jaime Paz Zamora -- pai de seu atual oponente. Em eleições presidenciais anteriores, Quiroga perdeu duas vezes para Morales, que foi impedido de concorrer este ano.
Apesar do receio de alguns eleitores quanto aos seus planos de cortes de empregos estatais, privatização de recursos naturais e redução do bem-estar social, Quiroga insiste que suas políticas beneficiarão os bolivianos comuns.
"A inflação que lhes causa tanta ansiedade vai acabar", disse ele durante uma parada de campanha em Samaipata, no interior rural da Bolívia. Crianças e idosos serão poupados dos cortes nos benefícios, segundo ele.
"EU FALO TEXANO"
Se eleito, Quiroga diz que buscará financiamento externo de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), garantirá novas parcerias comerciais e reformará o Judiciário.
Quiroga também propõe conceder aos bolivianos direitos de propriedade individual sobre recursos naturais controlados pelo Estado -- incluindo lítio e gás natural, por meio de uma estrutura de fundo mútuo -- uma medida que, segundo os críticos, enfraqueceria o controle estatal sobre recursos estratégicos.
Ele pretende descongelar as relações da Bolívia com os Estados Unidos após anos de alinhamento com a China, o Irã e a Rússia.
"Eu falo texano, não inglês", brincou ele, referindo-se ao tempo em que estudou na Texas A&M University e à sua passagem pela multinacional IBM em Austin.
Como nenhum partido obteve maioria em nenhuma das câmaras do Parlamento, a capacidade de Quiroga de formar alianças será testada. Seu partido, o Alianza Libre, obteve 43 dos 130 assentos na Câmara dos Deputados e 12 dos 36 no Senado. Isso está atrás do partido de Paz, que tem 47 cadeiras na Câmara e 16 no Senado.
Uma pesquisa da Ipsos Ceismori de setembro revelou que 59% dos entrevistados viam Quiroga como o candidato mais capaz de consertar a economia.
Seu desafio é conquistar os eleitores que apoiaram outros candidatos, incluindo os pouco menos de 20% que apoiaram o empresário Samuel Doria Medina, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno.
As pesquisas de opinião sugerem uma disputa acirrada. Quiroga lidera as intenções de voto com 42,9%, à frente de Paz com 38,7%, de acordo com uma pesquisa de outubro da Red Uno. Outra pesquisa indicou uma mudança tardia em direção a Paz, com 10% dos eleitores indecisos indo em sua direção.
(Reportagem de Daniel Ramos e Monica Machicao, em La Paz, e Lucinda Elliott, em Montevidéu)