Investing.com - Com a maioria das manchetes sobre o relatório de empregos de março, divulgado nesta sexta-feira, destacando os números aquém do consenso, o altamente observado aumento na inflação dos salários, alinhado às expectativas, não foi suficiente para causar preocupação indevida com uma política monetária mais agressiva de endurecimento do Federal Reserve.
De acordo com o relatório do governo, a economia norte-americana criou apenas 103.000 empregos em março, o menor nível em seis meses e bem abaixo das projeções de criação de 193.000 postos de trabalho.
Além disso, a taxa de desemprego permaneceu estável em 4,1%, mais uma vez frustrando expectativas de redução para 4,0%.
Com os EUA considerados de forma geral pelos especialistas como em pleno emprego ou próximo a isso, os mercados têm se concentrado no aumento dos salários, já que o Fed procura evidências de menor folga no mercado de trabalho e pressões de alta de inflação.
O relatório de empregos de março confirmou um leve aumento no crescimento dos salários de 0,3% a partir do mês anterior e um aumento um pouco maior de 2,7% em comparação ao ano anterior.
O mais recente resumo de projeções econômicas do Federal Reserve, divulgado em março, mostrou que os decisores tinham previsto que eles aumentariam as taxas de juros em um total de três vezes neste ano.
No entanto, os mercados estão lidando com a ideia de que alguns dos integrantes mais agressivos do Fed, a ideia de que o banco central poderia chegar a elevar os juros quatro vezes neste ano.
De fato, Janet Yellen, ex-presidente do Fed, afirmou no início desta semana que ela acreditava que três a quatro aumentos neste ano seriam possíveis, deixando a porta aberta para um endurecimento um pouco mais agressivo da política monetária.
Mercados não se convencem de quarto aumento em 2018
Apesar disso, os mercados, embora distraídos pelo constante movimento de ida e volta entre China e EUA com relação a tarifas comerciais, interpretaram o relatório de empregos como significativo de que um quarto aumento do Fed neste ano seria menos provável.
Tendo digerido os dados e enquanto estavam sob o domínio das tensões comerciais, os mercados de forma geral baixaram suas expectativas em relação ao ritmo dos aumentos neste ano. Futuros do fundo do Fed apostam que o banco central norte-americano irá realizar seu próximo movimento em junho, embora apontem cerca de 80,6% de chances em comparação a 85,6% na semana anterior, de acordo com o Monitor da Taxa da Reserva Federal do Investing.com.
A probabilidade de um terceiro e último aumento do ano em dezembro também permanecia acima do patamar de 50%. Entretanto, as apostas de um quarto aumento até o final do ano caíram de 32,1% sete dias atrás para 26,1% agora, uma clara indicação de que os mercados estão mais céticos a respeito dessa possibilidade.
Fatores no horizonte
No entanto, em uma nota após o relatório de empregos, economistas do ING alertaram que os dados futuros poderiam mudar esse tom, insistindo que o melhor crescimento de salários visto nesta sexta-feira apenas serviu para reforçar a situação favorável a quatro aumentos de juros.
"Com o núcleo da inflação preparado para atingir o nível de 2% nos dados a serem divulgados na semana que vem, esperamos que o Fed eleve os juros ainda mais três vezes neste ano - embora, claro, os decisores também terão um olhar firme sobre a escalada das tensões comerciais globais", afirmaram estes especialistas.
Em qualquer caso, os mercados provavelmente estarão muito atentos aos comentários do substituto de Janet Yellen. Jerome Powell, atual presidente do Fed, deverá falar sobre perspectiva econômica no Economic Club of Chicago às 14h30 desta sexta-feira.
Espera-se amplamente que Powell repita sua alegação de que não há sinais de inflação fora do controle e que um ritmo gradual de aumentos de juros é apropriado.