Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou perto das máximas da sessão desta sexta-feira, com forte movimento de compra no fim da tarde em meio à piora do humor externo devido à escalada de temores geopolíticos, mas o real ainda teve desempenho melhor do que vários de seus pares, ainda beneficiado pela percepção de que o Brasil hoje está atrativo para novos fluxos de dinheiro.
O dólar à vista chegou ao fim da tarde com variação positiva de 0,07%, a 5,2428 reais, distante da mínima do dia, de 5,1812 reais (-1,11%).
Mesmo na máxima, porém, a alta foi discreta, de apenas 0,15%, para 5,2473 reais.
No fim da tarde, o dólar subia entre 0,1% e 0,5% contra moedas emergentes de perfil parecido com o do real, mas saltava 3,1% contra o rublo russo, que liderava as perdas globais na sessão.
O dólar foi ao piso do dia próximo de 15h30 (de Brasília), mas uma onda de compras puxou a moeda de forma inclinada para cima. Ao mesmo tempo, o dólar saltava no exterior, assim como ouro e petróleo --ativos tradicionalmente sensíveis a questões geopolíticas. Enquanto isso, as bolsas de valores em Nova York foram ladeira a baixo.
Investidores vêm há semanas repercutindo tensões entre Rússia e Ocidente a respeito dos riscos de uma invasão por Moscou sobre o território ucraniano. Mas desta vez as manchetes foram mais explosivas.
A Rússia reuniu tropas suficientes perto da Ucrânia para lançar uma grande invasão, disse o governo dos EUA nesta sexta-feira, ao pedir a todos os cidadãos norte-americanos que deixem o país dentro de 48 horas depois de Moscou endurecer ainda mais sua resposta à diplomacia ocidental.
Um ataque russo poderia começar a qualquer dia e provavelmente se iniciaria por via aérea, disse o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
"Isso ainda pode pressionar bastante o mercado. Essa tensão sempre prejudica", disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, baseado no Estado da Flórida, EUA.
Ele ponderou, no entanto, que o real segurou bem o baque externo.
"Mesmo com a pressão geopolítica e do Fed, o real evoluiu nos últimos dias, assim como a bolsa brasileira. () O mercado brasileiro aparenta estar se saindo melhor, e o grande ponto é que você tem a combinação entre fluxos para emergentes e um Brasil visto como atrativo depois de ter o câmbio que mais se desvalorizou", acrescentou.
A tese é endossada pelos números das últimas semanas, que mostraram o real em apreciação mesmo num período em que cresceram tensões geopolíticas e o mercado disparou apostas de aumento mais agressivo da taxa de juros nos EUA --o que poderia absorver liquidez dos emergentes.
Nesta semana, o dólar no Brasil acumulou queda de 1,54% --quinta consecutiva de perdas, na mais longa sequência do tipo desde maio de 2021. No atual período, o dólar registrou baixa de 6,91%.
Em fevereiro, a moeda cedia 1,19%, estendendo a desvalorização no ano para 5,93%. O real divide com o sol peruano o posto de divisa com melhor desempenho global neste ano, numa lista liderada com folga por moedas emergentes de países que também têm apertado a política monetária e que vinham de avaliações mais fracas.
Estrategistas do Barclays (LON:BARC) mantêm apostas otimistas na taxa de câmbio brasileira, vendo resiliência na classe de moedas emergentes de forma geral pelo histórico favorável em outros momentos de alta de juros nos EUA.