Por David Lawder
NOVA YORK (Reuters) - A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse à Reuters que um cenário de "pouso suave" para a economia norte-americana pode suportar riscos de curto prazo, incluindo uma greve de trabalhadores do setor automotivo, uma ameaça de paralisação do governo, a retomada dos pagamentos de empréstimos estudantis e repercussões dos problemas econômicos da China.
Yellen disse na segunda-feira ver evidências de que a economia está se mantendo em um caminho de progresso substancial para reduzir a inflação, ao mesmo tempo em que mantém um mercado de trabalho forte e gastos saudáveis dos consumidores.
"O que estou vendo na economia é um esfriamento no mercado de trabalho que está ocorrendo de forma saudável, sem envolver demissões em massa", disse Yellen durante uma discussão com editores, repórteres e colunistas da Reuters na segunda-feira.
"É um pouco do calor que está se dissipando no mercado de trabalho."
Nesta terça-feira, o Federal Reserve inicia uma reunião de dois dias para avaliar suas opções em sua campanha agressiva de aumento das taxas de juros para conter a inflação, enquanto economistas dizem que a greve de automóveis, a possibilidade de uma paralisação do governo e o fim, em 1º de outubro, de uma moratória de três anos sobre o pagamento de empréstimos estudantis podem conspirar para esfriar a economia mais rapidamente do que o esperado.
Yellen reconheceu que a perspectiva de "pouso suave", que ganhou força entre os economistas nas últimas semanas, à medida que as previsões de recessão se dissipam, pode ser afetada por ventos contrários, como a greve do sindicato do setor automotivo United Auto Workers contra as montadoras de Detroit.
O sindicato ameaçou ampliar a greve, que já está paralisando cerca de 13 mil trabalhadores, para mais fábricas se não houver progresso em direção a um acordo até sexta-feira.
O governo do presidente norte-americano, Joe Biden, está trabalhando para incentivar os dois lados a resolver a greve rapidamente, disse Yellen.
Ao mesmo tempo, o risco de um "shutdown" do governo federal em menos de duas semanas aumentou à medida que os republicanos da linha dura da Câmara dos Deputados exigem cortes de gastos além dos níveis acordados em junho. O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, enfrenta um grande teste ao tentar aprovar um Orçamento antes do final do ano fiscal, em 30 de setembro.
"É um risco desnecessário para a economia e para o funcionamento normal do governo", disse Yellen, acrescentando haver apoio bipartidário no Senado dos EUA para aderir ao limite de gastos discricionários de 1,59 bilhão de dólares para o ano fiscal de 2024 acordado em junho.
No entanto, não se espera que esse e outros riscos tirem a economia de sua trajetória atual de crescimento mais lento, porém sustentável, disse ela.
A retomada do pagamento de empréstimos estudantis em 1º de outubro vai desviar alguns gastos, mas os aprimoramentos de Biden nas políticas de pagamentos orientados pela renda proporcionarão alívio a muitos mutuários, disse Yellen.
Ela disse ainda que a desaceleração econômica da China terá um impacto limitado sobre o crescimento dos EUA, ecoando comentários recentes do subsecretário do Tesouro, Wally Adeyemo.