Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda ante o real nesta quinta-feira, a primeira em cinco sessões e a mais forte desde meados de outubro, com os vendedores reaparecendo depois de ajuste nos dados da balança comercial e da sinalização do Banco Central de disposição para atuar no câmbio.
Com folga, o real liderou os ganhos entre 33 rivais do dólar nesta sessão, depois de dias entre os piores desempenhos.
No mercado interbancário, o dólar caiu 1,00%, a 4,2160 reais na venda. É a maior baixa percentual diária desde 23 de outubro (-1,05%).
Na B3, em que os negócios vão até as 18h15, o dólar de maior liquidez caía 1,25%, a 4,2110 reais.
O dólar ensaiou baixa desde a abertura, com investidores à espera da oferta de até 1 bilhão de dólares no mercado à vista, anunciada pelo Banco Central na noite anterior. O anúncio com antecedência da operação agradou ao mercado, por passar mensagem de prontidão para a autoridade monetária agir no câmbio.
O BC vendeu todo o lote ofertado.
O alívio até então, contudo, era modesto, na casa de 0,2%, especialmente considerando que o dólar vinha de três recordes históricos consecutivos para fechamento e ainda a alta acumulada de 1,57% em quatro pregões seguidos de alta.
Mas por volta de 14h40 as vendas se intensificaram, após o Ministério da Economia revisar dados da balança comercial de novembro para mostrar superávit, e não déficit como informado anteriormente.
Pelas novas informações divulgadas nesta quinta-feira, o país acumulou nas quatro primeiras semanas de novembro saldo comercial positivo de 2,7 bilhões de dólares. O país exportou nas quatro primeiras semanas deste mês o equivalente a 13,5 bilhões de dólares, ante 9,7 bilhões de dólares reportados antes.
Na segunda-feira, o ministério havia informado déficit comercial de 1,099 bilhão de dólares no acumulado de novembro. Naquele dia, o dólar fechou numa máxima histórica, impulsionado pelos fracos números da balança e de transações correntes.
"Como alguém já disse: 'No Brasil até o passado é incerto'", afirmou no Twitter o gestor Marcos Mollica, da Opportunity.
O alívio desta quinta reduziu a alta do dólar no acumulado do mês para ainda expressivos 5,16% --depreciação de 4,91% para o real. Mas tamanha perda começa a atrair algumas recomendações mais positivas.
O banco suíço Julius Baer melhorou nesta quinta a avaliação para o real, citando espaço limitado para mais fraqueza da moeda brasileira depois justamente de forte depreciação recente.
"Mas, fundamental e estruturalmente, o real parece atraente nos níveis atuais em termos da taxa de câmbio efetiva real (REER) e dos termos de troca", disse o banco em nota.
Em outra evidência de que o câmbio não tem passado por disfuncionalidade mais clara, a volatilidade implícita para as opções de dólar/real de um mês caiu ao menor patamar desde 2 de agosto, indicação de que o mercado não vislumbra uma desvalorização estruturalmente acelerada para o real por perspectiva de que o crescimento econômico em 2020 possa voltar a trazer fluxos ao país.