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América do Sul tem condição de "desinflar" tensão Venezuela-Guiana para evitar confronto, diz Itamaraty

Publicado 04.12.2023, 17:51
Atualizado 04.12.2023, 19:15
© Reuters. Ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, concede entrevista após votar em plebiscito venezuelano sobre anexação de Essequibo
03/12/2023
REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) -A América do Sul tem condições para "desinflar" as tensões entre Venezuela e Guiana de forma a evitar um confronto depois que um plebiscito venezuelano no fim de semana aprovou a anexação de boa parte do território da vizinha Guiana, disse nesta segunda-feira à Reuters a secretaria para América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan.

Segundo ela, o governo brasileiro acompanha com preocupação a situação entre os dois vizinhos, mas não acredita que a situação irá avançar para um confronto armado, uma vez que diversas negociações estão sendo feitas por líderes da região -- incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -- com os presidentes de Venezuela e Guiana.

“Acompanhamos a situação com preocupação, mas eu não creio que vamos chegar a isso (conflito armado). Acho que a gente tem capacidade na região para desinflar esse processo“, disse a embaixadora à Reuters ao ser questionada se o clima entre os dois países poderia culminar em um confronto militar.

“A gente defende uma solução pacífica para essa questão, e o que a gente não quer é o que o presidente Lula chamou de confusão, e eu chamo de conflito. Acho que seria totalmente indesejável um conflito em um momento que a gente está retomando a integração da América do Sul, retomando reunião dos 12 países sobre diversos temas, inclusive defesa", acrescentou.

A embaixadora também lembrou que a região de Essequibo é dominada por uma floresta densa e de difícil acesso, o que dificultaria qualquer ação militar. A principal ligação terrestre entre Venezuela e Guiana é uma estrada que corta o território brasileiro na região de Pacaraima (RR).

“As condições do terreno não são fáceis, é só olhar o mapa. Não é chegar (e entrar), a única estrada que liga (Venezuela e Guiana) passa pelo Brasil, que é Pacaraima”, disse Padovan em entrevista após participar de evento do Mercosul Social.

Uma fonte ligada ao Comando do Exército disse que, do lado brasileiro, o movimento na fronteira tem sido normal. A fonte destacou que a vigilância permanente na região foi reforçada para evitar que o Brasil venha a ser surpreendido com qualquer tipo de ação militar tentando usar parte do território brasileiro.

"Nenhuma ação de qualquer dos dois lados poderá se valer do nosso território", ressaltou.

O Centro de Comunicação Social do Exército confirmou um aumento do efetivo no pelotão de fronteira de 70 para 130 militares. Segundo o órgão, as movimentações de tropas fazem parte do adestramento avançado da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, visando manter a prontidão e eficiência operacional da Força Terrestre.

"A Brigada em Roraima segue realizando sua ação de presença naquela faixa de fronteira normalmente. O acréscimo de 60 militares na região de Pacaraima visa atender, em melhores condições, à missão de vigilância e proteção do território nacional", informou o comunicado.

REFERENDO

Em um referendo realizado no domingo, os eleitores da Venezuela rejeitaram a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ) sobre a disputa territorial do país com a Guiana e apoiaram a criação de um novo Estado venezuelano na região de Essequibo, potencialmente rica em petróleo.

A corte proibiu na sexta-feira a Venezuela de tomar qualquer medida que altere o status quo na área, que é objeto de um processo ativo perante a CIJ, mas o governo do presidente Nicolás Maduro prosseguiu com um referendo "consultivo" de cinco questões.

No mês passado, o ex-chanceler e atual assessor presidencial Celso Amorim foi a Caracas, a pedido de Lula, depois de uma avaliação brasileira de que a campanha venezuelana sobre a anexação do Essequibo teria subido demais o tom, contou a Reuters uma fonte que acompanha as conversas.

O governo brasileiro não pediu que o referendo venezuelano fosse cancelado, mas solicitou a Maduro que diminuísse o tom da campanha e buscasse uma solução pacífica. Lula também recebeu um telefone do presidente da Guiana, Irfaan Ali.

Na semana passada, o Ministério da Defesa brasileiro informou que intensificou ações ao longo da fronteira norte do país enquanto monitora uma disputa territorial entre os vizinhos.

”Entendo que houve o acionamento de uma batalhão que já existia, ou regimento, e é natural que em momento de declarações inflamadas você se preocupe", disse a embaixadora sobre o reforço militar na área.

A aprovação da anexação no referendo venezuelano não foi uma surpresa, destacou a embaixadora. “Essa é uma causa que une governo e oposição, talvez a única", disse. "O referendo é uma iniciativa interna e qualquer país pode organizar, mas o que a Corte Internacional de Justiça proíbe é a alteração na situação de fato, e isso não aconteceu“, afirmou.

A área em disputa é rica em recursos mineirais e representa 159 mil dos 215 mil quilômetros quadrados da Guiana. O território está em disputa desde o século 19, quando os britânicos, então colonizadores da Guiana, ocuparam uma área para além do rio Essequibo, onde havia sido descoberto ouro.

© Reuters. Ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, concede entrevista após votar em plebiscito venezuelano sobre anexação de Essequibo
03/12/2023
REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

Uma primeira arbitragem, em que os Estados Unidos teriam apoiado o pleito da Venezuela, foi feita em 1897, em Paris, e um acordo dos norte-americanos com os britânicos deu o território a Guiana. Em 1962, ainda insatisfeita com o resultado, a Venezuela denunciou o caso na Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1966, um tratado assinado em Genebra reconheceu a reivindicação da Venezuela.

Ao longo dos últimos 57 anos várias mediações foram tentadas, sem sucesso, até que a ONU definiu a Corte Internacional de Justiça como foro para solução, o que a Venezuela discorda.

(Reportagem adicional de Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu, em BrasíliaEdição de Pedro Fonseca)

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