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Governo define nomes de ministros do centrão, mas pastas dependem de Lula

Publicado 20.07.2023, 11:05
© Reuters. Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo, em Brasília
07/04/2010
REUTERS/Ricardo Moraes

Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto já tem os nomes indicados pelo centrão para se tornarem ministros como parte da troca no primeiro escalão para ampliar o apoio ao governo no Congresso, mas quais pastas eles ocuparão ainda é um desenho que está sendo feito e depende do aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disseram à Reuters fontes que acompanham as negociações.

Os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) foram antecipados pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), como os nomes apresentados pelos partidos. O líder afirmou que "são dois nomes que o presidente já conhece e gostou muito." Ambos se reuniram nesta semana com o ministro das Relações Internacionais, Alexandre Padilha.

Os postos que ambos deverão ocupar, no entanto, só devem ser definidos pelo próprio presidente e anunciados no final deste mês ou no início de agosto, após o recesso parlamentar. Por enquanto, os auxiliares do presidente preparam cenários e ideias para apresentar a Lula.

De acordo com uma das fontes, o mais provável até agora é que PT e um dos demais partidos da aliança inicial de Lula -- PSB e PCdoB -- percam uma das pastas que têm para abrir caminho para o centrão. Não está descartado que algum ministro atual que perca o cargo seja realocado em uma pasta menor que não esteja, hoje, com partidos, mas nada está definido.

No momento, existe uma chance razoável de Silvio Costa Filho assumir o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), hoje com o petista Wellington Dias. A pasta abriga o Bolsa Família, principal programa social do governo, mas o deputado, apesar de ser do Republicanos, é de confiança do presidente. Seu pai, o ex-deputado Silvio Costa, foi líder do governo Dilma Rousseff e sempre fiel aos governos petistas. Ambos apoiaram a candidatura de Lula desde o começo.

"Quando o presidente disse que o MDS era dele, ele não citou o nome do ministro e não disse que não iria mexer, como falou no caso do Esporte", disse uma das fontes.

Ao iniciar as conversas com Lula sobre a possível participação de PP e Republicanos no governo, o centrão pediu quatro cargos: Ministérios do Esporte e Desenvolvimento Social e as presidências da Caixa e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) -- que foi ressuscitada pelo Congresso durante a tramitação da medida provisória dos ministérios.

Desses, Lula descartou retirar a ex-jogadora de vôlei Ana Moser do Esporte. A presidência da Caixa está praticamente acertada com o PP, faltando apenas um nome para substituir Rita Serrano.

Funcionária de carreira, a atual presidente, de acordo com uma segunda fonte, não estaria correspondendo ao esperado por Lula e tem sido alvo de críticas dentro do próprio governo. O PP tenta encontrar um nome de uma mulher para indicar ao governo, já que Lula prefere não diminuir a cota feminina no primeiro escalão, mas não se descarta que Gilberto Occhi, que já foi presidente da Caixa, acabe assumindo.

Já a recriação da Funasa ainda enfrenta resistências da Casa Civil, que pretendia extinguir a autarquia. O pedido do centrão, no entanto, deve fazer com que seja mantida e vinculada ao Ministério da Saúde, onde há mais verbas e mais emendas.

Ainda está em aberto qual seria o cargo a ser ocupado por André Fufuca. Entre os cenários estaria a pasta de Portos e Aeroportos, hoje ocupada por Márcio França. Se isso acontecesse, o ex-governador de São Paulo poderia assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio no lugar do vice-presidente Geraldo Alckmin, se esse concordasse.

"Mas por enquanto o que tem é especulação", disse uma das fontes.

 

MAIS 75 DEPUTADOS

O governo Lula busca reforçar sua base na Câmara com o objetivo de concluir a partir de agosto a votação do novo marco fiscal e da reforma tributária, que está no Senado e seguramente voltará para apreciação dos deputados.

Além disso, a Casa deverá iniciar em breve a discussão e futura votação de outras propostas da agenda econômica no Congresso, como a reforma do Imposto de Renda, prometida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A efetivação de Fufuca e Costa deve garantir o apoio consistente ao governo de pelo menos mais 75 deputados do PP, do Republicanos, do Cidadania, do PSDB e até do PL, pelas contas de uma fonte ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o principal articular desse ingresso do centrão no governo. Sozinho, o núcleo duro do governo não tem mais do que 150 deputados atualmente.

Um dirigente de um dos partidos envolvidos nas negociações disse que não tem ainda qualquer acordo e "está mais longe do que se diz." Já o presidente do PP, Ciro Nogueira, garante que seu partido continuará como oposição, mesmo com Lira negociando cargos para a legenda.

Ao ser questionado pela Reuters, foi taxativo: "Enquanto eu for presidente, o Progressistas vai ser um partido de oposição", ressaltou ele, que foi ministro da Casa Civil do ex-presidente Jair Bolsonaro.

© Reuters. Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo, em Brasília
07/04/2010
REUTERS/Ricardo Moraes

A aliados, Lira tem dito que, com cargos no governo, parte do partido será da base e votará com o Planalto, enquanto outros deputados ainda se manterão como oposição, especialmente parlamentares do Sul e do Centro-Oeste.

Já o Republicanos, que também fez parte do governo Bolsonaro, diz que se manterá independente, mas parte dos parlamentares, com mais afinidade com Lula -- especialmente os da região Nordeste -- votarão com o governo. A principal dificuldade do partido é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, eleito como aliado de Bolsonaro e muito vinculado ao ex-presidente.

De acordo com uma fonte ligada ao governador, Silvio Costa teria feito um acordo com Tarcísio de pedir licença do partido para assumir um cargo no governo, mantendo assim a suposta independência do Republicanos. Na prática, no entanto, seria apenas um gesto para não vincular claramente o partido ao governo federal, arqui-inimigo de Bolsonaro, e colocar Tarcísio em uma situação difícil. Na prática, disse a fonte, não afetaria os votos que o governo espera conseguir na Câmara.

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