SÃO PAULO (Reuters) - A Odebrecht, maior empreiteira do país e um dos principais alvos da operação Lava Jato, anunciou na noite desta terça-feira que decidiu fazer "uma colaboração definitiva" com as investigações sobre um esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras (SA:PETR4), partidos políticos e grandes empreiteiras.
"As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato", afirmou a empresa em nota, no mesmo dia em que foi alvo principal de mais uma fase da operação Lava Jato.
A decisão da Odebrecht de colaborar com os procuradores da Lava Jato deve trazer mais revelações, já que a empresa é uma importante doadora para campanhas eleitorais, ajudando a financiar a campanha de políticos de vários partidos, além de ter uma série de contratos com o poder público.
"A empresa, que identificou a necessidade de implantar melhorias em suas práticas, vem mantendo contato com as autoridades com o objetivo de colaborar com as investigações, além da iniciativa de leniência já adotada em dezembro junto à Controladoria Geral da União", acrescenta a nota.
O ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, é um dos condenados pela operação Lava Jato e está preso desde meados do ano passado em Curitiba, onde o juiz federal Sérgio Moro concentra os processos ligados à operação.
O advogado Nabor Bulhões, que representa Marcelo Odebrecht e do grupo Odebrecht, disse à Reuters por telefone que o acordo de colaboração da empresa com o Ministério Público inclui uma "cláusula de abrangência de seus funcionários e executivos que queiram e que tenham com que colaborar com as investigações".
Ele afirmou que fazer acordos de delação premiada será uma decisão pessoal dos funcionários e executivos da companhia, entre eles Marcelo Odebrecht.
A Polícia Federal lançou nesta terça-feira a 26ª fase da operação, na qual a Odebrecht é acusada de realizar pagamento sistemático de propinas por meio de um setor especializado para obter contratos em várias áreas de atuação da empresa, além do esquema envolvendo a Petrobras.
As investigações apontaram que havia dentro da Odebrecht uma área profissionalmente organizada para pagamentos ilegais, chamada “setor de operações estruturadas", que incluía o pagamento de vantagens indevidas a servidores públicos, além da propina milionária paga pela empreiteira por contratos com a estatal de petróleo que é o foco principal da Lava Jato.
O esquema foi utilizado pelo menos até o segundo semestre de 2015, segundo as investigações, que apontaram que Marcelo Odebrecht não apenas tinha conhecimento dos pagamentos ilícitos em outras áreas, como também comandava diretamente o esquema.
FINANCIAMENTO POLÍTICO
Na nota, a Odebrecht se exime de "responsabilidade dominante" pelos fatos apurados na Lava Jato e diz haver um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento de campanhas e partidos.
"Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato --que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país-- seguimos acreditando no Brasil", disse a empreiteira na nota.
Marcelo Odebrecht foi condenado a 19 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa em uma ação penal da Lava Jato.
(Reportagem de Eduardo Simões)