Por Maria Carolina Marcello
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, que não há ninguém que mereça mais o Prêmio Nobel da Paz do que o cacique Raoni Metuktire, liderança indígena condecorada pelo mandatário francês em cerimônia nesta noite.
Raoni foi condecorado em Belém nesta terça como "cavaleiro da legião de honra" por Macron, que estava acompanhado de Lula na visita à região amazônica. Os dois lançaram um programa de investimentos na floresta amazônica brasileira e guianense envolvendo 1 bilhão de euros em fundos privados e públicos nos próximos quatro anos.
"Eu posso te dizer, companheiro Raoni, não tem ninguém no planeta Terra que mereça ganhar o Prêmio Nobel da Paz mais do que você pelo que você fez na sua passagem pelo planeta Terra", disse Lula, olhando diretamente para o cacique.
"Se depender de mim -- e eu espero que se depender do Macron --, uma conversazinha com o pessoal da Noruega, com o pessoal da Suécia, conversar com uma rainha aqui, uma rainha ali, a gente consegue fazer com que pela primeira vez um indígena com mais de 90 anos de idade possa, representando o povo indígena brasileiro, receber o Prêmio Nobel da Paz", brincou Lula, já dirigindo-se ao presidente francês, que sorria.
Raoni recebeu a condecoração do governo da França em reconhecimento a uma vida dedicada à preservação ambiental e à defesa das florestas e dos povos indígenas.
Ao discursar no evento, o cacique pediu que não haja mais desmatamento, demandou por mais demarcação de terras indígenas e pediu ainda que o governo não apoie o avanço do projeto da Ferrogrão, ferrovia com 1.000 km de extensão apoiada por agricultores e empresários que deverá passar por terras das comunidades indígenas Munduruku e Kayapó para transportar grãos até um porto no norte da Amazônia.
Raoni também pediu a Macron e Lula apoio institucional e orçamentário para a Fundação Nacional do Índio (Funai).
O cacique já foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2020 por sua defesa da floresta ao longo da vida. Ícone inconfundível da Amazônia, ficou conhecido internacionalmente como ativista ambiental nos anos 1980, ao lado do músico Sting.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello, em Brasília)