A Abit, entidade que representa a indústria têxtil nacional, projetou nesta quinta-feira, 17, um crescimento de produção que, se confirmado, permitirá ao setor recuperar toda a perda de faturamento causada pela pandemia. O presidente da associação, Fernando Pimentel, alertou, porém, ao risco trazido pela reescalada dos casos de contaminação de covid-19 ao quadro de reabertura da economia que fundamenta as previsões de crescimento. "Não sabemos o que uma segunda onda pode causar, como será a aplicação da vacina, mas tudo mostra que entramos em uma nova fase de restrição de mobilidade", comentou o executivo durante entrevista coletiva à imprensa na qual a Abit compartilhou sua visão sobre as tendências para o ano que vem.
Segundo Pimentel, o aumento de casos de contaminações, que acontece sem uma definição do cronograma de vacinação no Brasil, agrava a sensação de incerteza, já acentuada pelas dúvidas sobre a política fiscal e de como será a transição dos estímulos emergenciais que vêm sustentando a arrancada da economia após o choque da pandemia.
"Os próximos 60 ou 90 dias serão críticos não só pelas questões políticas, mas, principalmente, pelo desenrolar do recrudescimento da pandemia. Se ensejar um lockdown fechamento rigoroso de atividades comerciais e não comerciais, esses números terão que ser revistos", comentou Pimentel, referindo-se às projeções de recuperação de vendas e empregos no ano que vem. "Hoje, um mês é longo prazo. O mundo está incertíssimo", acrescentou.
O balanço da entidade, com dados relativos ao período de janeiro a outubro, mostra queda de 11,4% da produção de manufaturas têxteis e de 29,1% dos volumes de vestuário neste ano. Apesar do desempenho negativo, explicado pelos meses de fechamento das lojas de produtos não essenciais - caso dos artigos de vestuário -, a recuperação, reforçou Pimentel, tem sido mais "vigorosa" do que o esperado.
A previsão para 2021 é de crescimento de 8,3% dos volumes de têxteis e de 23% em vestuário, levando o faturamento somado da indústria para R$ 381 bilhões, o que significaria voltar ao patamar de 2019 (R$ 379,3 bilhões).
Durante a coletiva, Pimentel disse que não está chegando ao preço final praticado no varejo o aumento nos preços das matérias-primas, como o algodão, cuja cotação em dólar já saltou, desde abril, de 53 centavos para 75 centavos.
"Se compararmos Natal de 2020 contra Natal de 2019, os preços, em geral, não vão ficar muito diferentes de um aumento de 3% a 5%", afirmou Pimentel, lembrando, na sequência, que o vestuário teve, na verdade, deflação de 1,7% no acumulado desde janeiro.
O motivo, explicou, é que a vasta variedade de oferta permite ao setor substituir produtos para oferecer itens que caibam no bolso do consumidor.
A respeito da falta de insumos que, assim como em diversos setores industriais, atingiu a indústria têxtil, o presidente da Abit informou que o quadro hoje é menos problemático do que o de dois meses atrás. Para ele, o suprimento de matérias-primas deve ser normalizado até março.
"Houve um estresse de suprimentos, os timings tempo de produção entre os elos da cadeia não estavam casando, mas agora está acomodando tudo", disse o executivo.