Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - O financiamento para compra de carros usados teve uma retomada desde o início de abril, recuperando-se parcialmente após ter caído cerca de 80% na segunda metade de março, afirmou nesta quinta-feira o presidente-executivo do banco BV, Gabriel Ferreira.
"Hoje o movimento está em cerca de metade do que era antes da crise", disse Ferreira à Reuters, explicando que o mercado de seminovos em geral é mesmo mais resiliente em períodos de crise econômica, como a atual causada pelos efeitos do coronavírus.
Além disso, como o BC tem uma atuação geograficamente diversificada e as medidas de isolamento social para conter a pandemia foram distintas por regiões no país, o impacto foi relativamente menor do que no mercado de carro zero.
Líder no setor no país, o BV tem o financiamento automotivo parcela majoritária no seu resultado, em que dois terços das receitas são oriundas de crédito ao varejo.
Na semana passada, a Fenabrave, associação que representa concessionários, informou que os licenciamentos de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no Brasil em abril caíram cerca de 76% ante mesmo mês de 2019.
Para o executivo, mudanças de hábito também oriundas da pandemia, como o maior receio de pessoas de usar o transporte público para se locomoverem, também podem ajudar o mercado de carros usados no médio prazo.
Segundo Ferreira, outro fator que ajudou o BV desde a segunda quinzena de março, quando as medidas de isolamento começaram, foi a forte demanda de grandes empresas por crédito para reforçar a liquidez.
"Desde então, houve uma explosão da demanda no atacado", disse o principal executivo do banco controlado pelo Grupo Votorantim e pelo Banco do Brasil (SA:BBAS3).
Por último, Ferreira considera que a parceria com fintechs também aliviou os efeitos da retração econômica recente, uma vez que o atual cenário provocou uma aceleração das transações financeiras por canais digitais. O BV tem parcerias com o Guiabolso e o Banco Neon, entre outros.
RESULTADO
O BV anunciou nesta quinta-feira que teve lucro líquido de 221 milhões de reais no primeiro trimestre, queda de 34,2% em relação ao mesmo período de 2019, refletindo um salto de 69% no chamado custo do crédito, dado o forte aumento nas provisões para perdas esperadas com calotes.
O índice de inadimplência acima de 90 dias na carteira do BV ficou em 4,5% no trimestre, estável nas comparações sequencial e anual. O índice de cobertura do banco fechou março em 206%, ante 196% em dezembro e 175% um ano antes.
O banco, que desistiu do projeto de IPO protocolado em fevereiro após a deflagração da crise, segue com o plano, mas não há data para uma retomada.
"Sabemos que quando há choques econômicos como o atual, a janela para operações como essa demorar a reabrir", disse Ferreira.