Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A elétrica EDP (SA:ENBR3) Brasil entregou à empresa de shoppings centers Multiplan (SA:MULT3) uma usina solar em Minas Gerais que demandou cerca de 30 milhões de reais em investimentos e terá capacidade de 8,3 megawatts, o suficiente para atender 100% da demanda de um centro comercial da cliente no Rio de Janeiro.
O negócio faz parte de uma aposta da EDP, por meio de sua divisão EDP Smart, na implementação de projetos solares para fornecimento de energia renovável a clientes comerciais e residenciais, disse à Reuters o presidente da companhia, Miguel Setas, que revelou que a empresa tem avaliado também aquisições para expandir a presença nesse nicho.
Desde 2017, a EDP já negociou a entrega de 15 projetos de energia solar como o da Multiplan, inaugurado nesta semana, o que representa uma capacidade instalada de cerca de 25 megawatts. A empresa também já anunciou uma intenção de investir cerca de 100 milhões de reais ao ano nesses projetos solares.
"Nós temos uma visão de crescimento orgânico e também via aquisição", disse Setas, acrescentando que há conversas em andamento nesse sentido. "Tem (oportunidades de comprar) projetos, ou mesmo veículos societários que têm vários projetos."
Os investimentos da EDP nos projetos solares miram tanto negócios de microgeração distribuída, que envolvem a instalação de placas solares ou pequenas usinas para atender à demanda de um ou mais clientes, quanto o modelo de autoprodução, que permite empreendimentos maiores, como é o caso do projeto para o a Multiplan.
Em ambos os casos, a elétrica fica responsável pelos investimentos, enquanto os clientes recebem energia renovável a preços abaixo do que pagam no mercado.
O projeto entregue à Multiplan é um sistema de autoprodução que envolve 25,4 mil módulos fotovoltaicos, espalhados por uma área de 240 mil metros quadrados, equivalente a 24 campos de futebol.
"Esse é um projeto que se encaixa dentro do conceito de sustentabilidade da Multiplan e que ainda traz uma economia considerável para o empreendimento e seus lojistas. É um modelo que inclusive pode ser replicado", disse o vice-presidente institucional da Multiplan, Vander Giordano.
Ele destacou que o modelo de contrato fechado junto à EDP viabilizará uma redução de custos com energia de cerca de 40%, equivalente a cerca de 5,5 milhões de reais por ano. O shopping VillageMall, que utilizará a geração da usina solar, fica na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e foi inaugurado em 2012.
Em sistemas de autoprodução, empresas podem produzir sua própria energia em qualquer lugar do país, enquanto as aplicações de microgeração exigem que as instalações de geração fiquem na região da distribuidora que atende o consumidor.
Antes, no final de 2017, a Multiplan já havia contratado a EDP para instalar uma cobertura de placas solares no telhado de seu ParkShopping Canoas, no Rio Grande do Sul, em um sistema com capacidade menor, de 1,33 MW.
DEMANDA EM ALTA
A EDP Brasil tem sentido uma forte demanda de consumidores por projetos de geração distribuída ou autoprodução, com o mercado aquecido tanto pelo interesse de clientes quanto pelo forte apetite de investidores por negócios nesse nicho.
De acordo com Setas, há de certa forma uma "corrida" por investimentos, dada a recente sinalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de que pode haver mudanças nas regras para geração distribuída a partir de 2020, o que poderia reduzir os retornos desses sistemas no futuro.
"Hoje as regras são muito favoráveis, e há um consenso no mercado de que não vai ser para sempre assim", apontou o executivo, destacando a movimentação no segmento mesmo em momento de fraqueza da economia brasileira.
Ele afirmou também esperar um movimento de consolidação no setor, com grandes elétricas ou empresas de porte adquirindo pequenos instaladores que investiram na chamada "GD" nos últimos anos.
"Isso já está acontecendo. Empresas de escala mais reduzida buscam saída, e é uma oportunidade para as grandes avançarem mais rapidamente", afirmou.
Ele disse também que a aposta da EDP nos projetos solares mira uma visão de que esse segmento deverá crescer exponencialmente no Brasil nos próximos anos.
Mas a elétrica, controlada pela portuguesa EDP, seguirá concentrada nas instalações solares para atender consumidores, enquanto eventuais investimentos em usinas solares para geração centralizada, para atendimento ao sistema, são avaliados pela EDP Renováveis, empresa do grupo também presente no Brasil.
A capacidade instalada em projetos de geração distribuída no Brasil ultrapassou a marca de 1 gigawatt, sendo que cerca de 87% dos sistemas envolvem energia solar, disse a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta terça-feira.