SÃO PAULO (Reuters) - A estatal Eletrobras (SA:ELET3) vai revisar os investimentos previstos em todas suas subsidiárias, em meio a uma delicada situação financeira e a incertezas quanto a operações que poderiam gerar recursos extras para a companhia, como a venda da fatia na distribuidora de energia Celg-D, de Goiás, que deverá ser privatizada ainda neste ano em leilão na BM&FBovespa (SA:BVMF3).
A estatal federal, que registrou prejuízo de 14,4 bilhões de reais em 2015, projetou no início de março investimentos de 13,16 bilhões de reais para este ano, sendo 10,47 bilhões de reais em aportes com recursos próprios.
"Estamos fazendo uma revisão do orçamento de investimento de todas empresas em função da situação de caixa de companhia", afirmou o diretor finaceiro, Armando Casado de Araujo, em teleconferência com investidores nesta sexta-feira.
A fala do executivo veio após pergunta de uma analista sobre como a estatal captaria recursos para viabilizar seu agressivo plano de investimentos.
Ele citou incertezas sobre o quanto a companhia poderá arrecadar com a venda da Celg-D e sobre o pagamento de indenizações bilionárias devidas pela União a suas subisidiárias pela renovação antecipada de concessões de transmissão no final de 2012.
A fatia da Eletrobras na Celg-D, de 51 por cento, foi avaliada em 1,42 bilhão de reais.
O leilão distribuidora terá um preço mínimo de 2,8 bilhões de reais, que considera ainda a fatia do governo de Goiás na empresa, mas se consideradas dívidas a serem assumidas pelo comprador o negócio envolve um total de 5,2 bilhões de reais.
Nas últimas semanas, empresas que inicialmente mostraram interesse no ativo, como CPFL e Energisa (SA:ENGI4), fizeram críticas ao preço definido para o negócio.
Quanto às indenizações para os negócios de transmissão, estimadas pela companhia em 21 bilhões de reais, Araújo disse que espera que a forma de pagamento seja definida ainda no primeiro semestre.
O Ministério de Minas e Energia afirmou à Reuters em março que havia uma expectativa de publicar ainda naquele mês uma portaria com uma solução para o assunto, mas com previsão de que as companhias passariam a receber a indenização a partir de 2019.
Diante desse cenário, Araujo disse que a Eletrobras terá "muito cuidado" antes de entrar em leilões para a disputa de qualquer novo projeto.
"O que for novo vamos olhar com muita cautela", afirmou.
INVESTIGAÇÕES
O diretor financeiro também afirmou que a Eletrobras tem atualmente nove projetos sendo investigados pelo escritório especializado Hogan Lovells, por uma comissão independente e por seus auditores devido a suspeitas de corrupção apontadas durante a Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Em janeiro, a Reuters publicou que as investigações na estatal, inicialmente focadas na usina nuclear de Angra 3 e nas hidrelétricas Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, havia sido ampliada para mais cinco usinas.
Araujo não disse quais são os outros empreendimentos em análise.
A investigação da Lava Jato teve início na Petrobras (SA:PETR4) e descobriu um amplo esquema de propinas envolvendo políticos, estatais e empresas privadas, com denúncias de pagamentos ilícitos nas contratações de fornecerores na usina nuclear de Angra 3 e na hidrelétrica de Belo Monte.
"São nove projetos que estão sendo apurados, e esse trabalho está sendo desenvolvido praticamente com reuniões diárias", afirmou o diretor.
A Eletrobras ainda não fez nenhuma provisão ou baixa contábil referente a perdas com eventual corrupção nesses projetos.
(Por Luciano Costa)