A Enel (MI:ENEI) São Paulo anunciou nesta quinta-feira, 28, que vai instalar 300 mil medidores inteligentes de energia elétrica na zona Norte da capital paulista. No total, serão investidos R$ 121 milhões, a maior parte financiada por recursos do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Nesta primeira fase, serão substituídas 150 mil unidades até setembro de 2021, beneficiando moradores dos bairros de Pirituba e Perus. A companhia, porém, ainda não definiu quais as áreas receberão os demais equipamentos na segunda fase do projeto piloto.
"Precisamos testar essas tecnologias em regiões mais distantes, não só na Vila Olímpia", disse o presidente da Enel Distribuição São Paulo, Max Xavier Lins, em entrevista ao Broadcast Energia, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
O executivo fez referência ao projeto Urban Futurability - Vila Olímpia Digital, iniciativa lançada em outubro de 2019 para testar 40 das tecnologias mais modernas na rede elétrica de uma das regiões mais nobres de São Paulo.
O surgimento de novas tecnológicas tem transformado o setor elétrico mundial. A ponta mais visível dessa transformação no Brasil é a geração distribuída, regulamentada em 2012, permitindo que consumidores passem a produzir a sua própria energia. Ha ainda um conjunto de tecnologias de automação e sensores que, aos poucos, ganha mais espaço na rede de distribuição.
Uma tendência mundial é a eletrificação dos meios transportes coletivo, individual e de cargas. Empresas em várias parte do mundo estão desenvolvendo sistemas de armazenamento de energia que poderão ser utilizados tanto em residências e comércios como para estocar grandes quantidades de energia.
Segundo Xavier Lins, ainda não se sabe quando o Brasil poderá se beneficiar de todas as tecnologias que já estão em funcionamento em outras partes do mundo. O executivo avalia, porém, que "esse conjunto de coisas quando entrar no País vai entrar através de São Paulo". "Não sei quando a mobilidade vai ter significância no Brasil. O que sei é que vai começar por São Paulo e temos que estar preparados para isso", disse o executivo.
Toda essa modernidade passa pelo processo de digitalização das redes elétricas de baixa e média tensão, pela melhora nas infraestruturas de comunicação e transmissão de dados. Isso reforça também a importância da tecnologia 5G.
Medidor inteligente
O responsável pelo departamento de Infraestrutura e Rede da Enel Distribuição São Paulo, Rosario Zaccaria, afirmou que o medidor inteligente bidirecional é o "habilitador" para todas essas tecnologias que estão transformando o mundo. O medidor inteligente funciona como um concentrador e transmissor de dados sobre o comportamento do consumo de seus clientes, além de abrir possibilidades para o surgimento de novos produtos e serviços à população. O equipamento também permite que a distribuidora faça remotamente leituras de consumo, corte e religa, acompanhamento a curva de consumo e detecção de fraudes de consumo.
Os medidores que serão instalados em Pirituba e Perus constituem a tecnologia mais moderna desenvolvida pela Enel na Itália. A homologação dos equipamentos foi realizada em parceria com o Inmetro. A fabricação será feita no Brasil pelas empresas Flex e Ducati Energia.
"O Brasil não tinha sequer um padrão para homologação do medidor inteligente, para você ver o nível do esforço que está sendo feito pela Enel para trazer a modernidade. O Inmetro foi um parceiro importante e abraçou a ideia", disse Xavier Lins.
A Enel Distribuição São Paulo (antiga Eletropaulo (SA:ELPL3)) foi comprada pelo grupo italiano Enel em julho de 2018. Os novos donos, desde então, investiram R$ 2 bilhões na construção de novas subestações, redes de média tensão, substituição de circuitos de baixa tensão, automação e digitalização. A empresa é responsável por distribuir 10,3% de toda a energia que é consumida no Brasil. Atende 24 municípios da região metropolitana, em uma área de 4.500 metros quadrados e 7,5 milhões de clientes.
Regulação
O presidente da Enel SP, Max Xavier Lins, disse que o País precisa avançar na modernização da regulação, para que os benefícios das novas tecnologias possam ser capturados pelas distribuidoras e consumidores. Ele citou, por exemplo, a regulamentação da modalidade tarifária hora-sazonal, caracterizada pela aplicação de tarifas diferentes ao longo do dia. Isso permite que o consumidor responda aos preços altos no horário de pico, deslocando o consumo para outros horários, beneficiando por consequência o setor elétrico como um todo.
"É necessário o aprimoramento do marco regulatório no sistema de tarifação. É importante que o nosso regulador, que nos dá bastante apoio com recursos de P&D, ponha em marcha um avanço regulatório na tarifação que permita a resposta pelo preço", afirmou o executivo. Outra modalidade que vem na esteira do medidor inteligente é a possibilidade da compra pré-paga de energia.
Xavier Lins destacou que todas essas tecnologias exigem uma mudança cultural. Para que o consumidor abrace as novas funcionalidades precisa beneficiar o bolso. "O que nós queremos é que o consumidor possa, de fato, beneficiar-se das potencialidades dessas tecnologias."