Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A JBS (BVMF:JBSS3) está em fase final da implantação de biodigestores em nove processadoras de carne bovina da unidade Friboi, com um investimento de 54 milhões de reais para reduzir as emissões de metano de suas operações industriais, à medida que a empresa avança em sua jornada para zerar o balanço líquido dos gases causadores de efeito estufa até 2040.
Ao comentar sobre o que consideram o maior projeto do tipo na indústria de carnes do Brasil, executivos anteciparam nesta terça-feira à Reuters que a ideia é aproveitar a captura das emissões por meio dos biodigestores para produção de biogás, que tem uma série de aplicações na geração de energia renovável.
Com essa primeira fase da iniciativa no Brasil, que prevê a conclusão das obras dos biodigestores nas nove unidades até meados do próximo mês, a JBS prevê redução de 65% das emissões escopo 1 do negócio da Friboi, representando a diminuição de 24,6% nas emissões escopo 1 de todas as atividades do grupo no Brasil.
"Temos todas as emissões mapeadas, o foco do investimento deve ser onde há a oportunidade das maiores reduções...", disse o diretor corporativo de Sustentabilidade da JBS Brasil, Maurício Bauer, em referência às frigoríficos de carne bovina da Friboi.
Segundo o gerente de Meio Ambiente da Friboi, Marcelo Dresch, foi constatado que a maioria das emissões do escopo 1 é no tratamento de efluentes, especificamente em lagoas anaeróbias.
"Por isso que decidimos transformar as lagoas em biodigestores, pegando as maiores plantas do grupo", acrescentou ele.
A companhia avalia que o biogás poderá ser utilizado na geração de vapor nas caldeiras das unidades, substituindo a biomassa; como fonte para geração de energia elétrica; e como combustível para frota da transportadora da JBS em substituição ao diesel ou em sistema híbrido.
A captura de metano nas nove unidades da Friboi permitirá a produção de aproximadamente 80 mil metros cúbicos por dia (m³/d) de biogás, volume é suficiente para fornecer gás natural para mais de 190 mil famílias com um consumo médio de mensal de 11,7 m³/mês, por exemplo.
As fábricas de Campo Grande I (MS), Lins (SP), Mozarlândia (GO) e Ituiutaba (MG) já tiveram as suas obras dos biodigestores concluídas. As demais estão em fase final de implantação.
Em Ituiutaba, a companhia já realiza testes para uso do biogás para geração de energia elétrica, com objetivo de suprir a unidade; enquanto em Campo Grande II deverá substituir parte do consumo de gás natural pelo biometano em processo produtivo da unidade.
Em Andradina (SP), onde a companhia já contava com um sistema de biodigestor desde 2021, há previsão de comercialização do gás para terceiros na rede da distribuidora local.
Experiência no exterior
Bauer revelou que atualmente quase 90% da matriz elétrica da companhia no país já é oriunda de fontes renováveis de energia, uma vez que o Brasil tem sua geração fortemente focada em hidrelétricas.
Considerando todas as fábricas no mundo, 43% da matriz elétrica da JBS é de origem renovável, enquanto a meta é atingir 60% até 2030 e 100% em 2040.
Neste contexto, o grupo já realiza a captura do metano em unidades de outros países.
Atualmente, 14 fábricas nos Estados Unidos e no Canadá já possuem sistemas de biodigestores, produzindo 190 mil m³/d de biogás.
Os projetos em operação nos EUA e Canadá reduziram em 20% a demanda externa de gás natural, um combustível fóssil, e fez com que a JBS deixasse de emitir 650 mil toneladas por ano de gases de efeito estufa, disse a empresa.
A companhia também pretende expandir os projetos de produção de biogás nos EUA e Canadá e tem planos para realizar novos investimentos nesta frente no México.
Além disso, a JBS está investindo em projetos de biogás na Austrália, com potencial de eliminar a emissão de 60 mil toneladas de CO2.
Questionado sobre o investimento total para a companhia atingir a meta de ser "net zero" em emissões até 2040, o diretor de Sustentabilidade afirmou que é difícil fazer projeções, uma vez que as tecnologias tendem a baratear, assim como outras soluções tecnológicas podem surgir.
Ele admitiu que há planos para levar biodigestores para outras unidades do grupo no Brasil, mas isso vai depender de análise caso a caso das oportunidades nas fábricas.
(Por Roberto Samora)