Os juros futuros fecharam o dia em alta, mas modesta diante do que se viu pela manhã, na medida em que o dólar perdeu força ante o real e o mercado foi assimilando melhor o episódio sobre os bancos no exterior, se amparando também no fato de que as denúncias não envolvem, até o momento, instituições nacionais. No fechamento, as taxas curtas estavam perto dos ajustes anteriores, enquanto a ponta longa, que pela manhã chegou a subir mais de 20 pontos-base, tinha alta em torno de 6 pontos. Ainda assim, a curva terminou com ganho de inclinação, até porque nada mudou no panorama das preocupações fiscais e dificuldades para o Tesouro financiar a dívida pública em expansão.
O forte volume de contratos negociados até o trecho intermediário chamou a atenção, porque às segundas-feiras o giro normalmente é mais fraco. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 3,00%, de 2,973% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,384% para 4,44%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 6,365 (mínima), ante 6,304% no último ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,34% (mínima), de 7,283%.
As denúncias contra grandes bancos internacionais trouxeram grande estresse aos ativos na primeira etapa - o dólar chegou novamente perto dos R$ 5,50 e a curva empinou. No começo da tarde, porém, os mercados por aqui buscaram um comportamento "mais racional". Quando o dólar passou a oscilar em torno, e até abaixo, dos R$ 5,40, os juros reduziram bastante o ritmo.
Do ponto de vista técnico, profissionais de renda fixa lembram que o mercado de juros já vinha muito "machucado" desde o fim da semana passada, o que, na ausência de mais notícias negativas nesta tarde, reduzia as chances de que a inclinação da curva se sustentasse nos níveis da manhã. Até porque os dados da balança comercial na parcial de setembro foram bons e também contribuíram para amenizar a pressão.
Alento também veio da avaliação de que o sistema financeiro nacional tem uma supervisão firme das autoridades, o que reduz o risco de que algum banco local seja relacionado às acusações. "Não vejo grandes impactos por ora, a menos que isso tenha sido um gatilho para outras crises lá fora", disse uma fonte do Banco Central, que prefere não ser identificada. "Por aqui, nossas regras são rigorosas", acrescentou.
Para João Mauricio Rosal, economista-chefe da Guide Investimentos, esteve "bem no relativo hoje" com o mercado à tarde contextualizando melhor o noticiário matinal. "Não vi nome de nenhum banco local nessa confusão", disse.
De todo modo, a melhora é tratada mais como um ajuste do que tendência, uma vez que a questão fiscal permanece no centro das atenções. Para o economista-chefe da Galápagos Capital, Gino Olivares, falta resposta clara do alto escalão da gestão Bolsonaro para acalmar os mercados. "A foto de hoje é a de que o mercado não tem ideia clara do que o governo quer... Dado que a equipe econômica foi desautorizada a falar, e o governo interditou a comunicação com o mercado, tem de ser os big boys que têm de matar no peito", diz Olivares, mencionando o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes. Ou o governo se manifesta, ou os investidores vão continuar demando prêmios na curva de juros, afirma.