SÃO PAULO (Reuters) -O mercado global de celulose segue com restrições de oferta, com a demora da entrada em operação de novas capacidades produtivas e estoques baixos, o que favorece aumentos de preços da commodity nos próximos meses, afirmaram executivos da Suzano (SA:SUZB3), nesta quinta-feira.
A Suzano elevou o preço de celulose para clientes na Ásia neste mês em 50 dólares a tonelada e o diretor da área na empresa, Leonardo Grimaldi, afirmou que deve conseguir aplicar o aumento. Segundo ele, os motivos do reajuste seriam os aumentos de custos com matérias-primas e uma situação de restrição na oferta de transporte agravada pela Covid-19 e eventos específicos como greve de caminhoneiros na América do Norte.
"Hoje, no mercado chinês (de papel), não há espaço nenhum para especular contra aumento de preços de matéria-prima e da celulose", disse o executivo durante teleconferência da Suzano com analistas. A empresa divulgou na noite da véspera de lucro de 2,3 bilhões de reais para o quarto trimestre.
A companhia avalia que os estoques de celulose na Europa e na China encerraram 2021 em níveis baixos e viu novas reduções, da ordem de 5% a 6%, em janeiro. "E não devem se recuperar nos próximos meses", disse Grimaldi, citando a situação de demanda e dificuldades na entrada de novas capacidades produtivas.
A empresa está operando seus estoques em "níveis muito baixos" e até abaixo de patamares "ótimos de operação", mas suficientes para cumprir compromissos com clientes de longo prazo, disse Grimaldi.
Na frente de custos, o presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou que o custo caixa de produção da companhia deve atingir um ápice no atual trimestre, depois de subir 20% nos três últimos meses de 2021 sobre um ano antes.
"Como o petróleo começou o ano acima do que fechou no ano passado, está provocando novo aumento de custo", disse Schalka a jornalistas sobre o principal componente de custo da empresa. "O pico do custo caixa será no primeiro trimestre, decorrente disso e de paradas para manutenção em que a nossa produção (de celulose) será menor", disse o executivo, sem dar detalhes.
CRÉDITOS
Paralelamente à produção de papel e celulose, a Suzano também trabalha na certificação de créditos de carbono decorrentes de investimentos em melhoria em suas fábricas e na expansão de base florestal, afirmou Schalka.
Nas contas do executivo a Suzano tem créditos da ordem de 20 milhões de toneladas e está buscando a certificação deste volume de olho na aprovação de projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados para criar um mercado regulado de créditos de carbono no país.
A Suzano quer que as regras deste mercado permitam livre negociação de créditos no Brasil e no exterior, "assim poderemos ter preços mais interessantes. Mas se isso não acontecer, poderemos negociar no mercado voluntário", disse, citando que no mercado regulado os preços dos créditos são da ordem de 60 euros, a tonelada enquanto no voluntário são de 8 a 9 dólares.
Questionado sobre o atípico ano de 2021 do ponto de vista climático no país, com fortes chuvas na Bahia e secas intensas no Sul e Centro-Oeste, Schalka afirmou que as plantações de eucalipto da Suzano sofreram impactos distintos.
Enquanto na Bahia e Espírito Santo cresceu a produtividade das árvores, na região de São Paulo e no Mato Grosso do Sul houve crescimento mais lento dos eucaliptos, disse.
"Para enfrentarmos isso, estamos aumentando a nossa base florestal em algumas regiões para fazer frente às eventuais mudanças climáticas que geram variações de produtividade", afirmou. A ampliação das plantações de eucalipto também ajuda a ampliar o volume de créditos de carbono da Suzano, adicionou.
(Por Alberto Alerigi Jr.; edição de André Romani e Aluísio Alves)