SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) abriu nesta segunda-feira processo de licitação para o arrendamento de suas fábricas de fertilizantes (Fafens) nitrogenados no Sergipe e na Bahia, com três empresas pré-qualificadas para a disputa, de acordo com comunicado da estatal.
Em meio a esse processo, as unidades da estatal estão paradas, colaborando com o aumento na importação de matérias-primas utilizadas na fabricação de fertilizantes e defensivos agrícolas, disse separadamente nesta segunda-feira a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Mas o aumento dessas importações não está diretamente ligado à hibernação das unidades, de acordo com uma fonte da Petrobras.
"O que disseram é um grande absurdo e precisamos nos defender. As Fafens não produzem nem 20 por cento da ureia consumida. Elas produzem muito pouco...", disse a fonte da empresa, na condição de anonimato.
Segundo essa fonte, a maior parte do fertilizante nitrogenado utilizado no país é importado.
"As Fafens são deficitárias considerando os custos atuais, e no passado não tivemos interessados na venda. Por isso optamos pelo arrendamento", acrescentou.
Custos altos preocupam outros integrantes do setor de fertilizantes.
No início do ano, um diretor da companhia de fertilizantes Yara afirmou que o aumento dos preços do gás para as indústrias afeta "gravemente" toda a cadeia produtiva, e que a alta no valor do insumo poderia levar até ao fechamento de unidade em Cubatão.
A Petrobras começou a buscar a venda de ativos deficitários de fertilizantes a partir de setembro de 2017, em meio a um plano de desinvestimentos que visa reduzir dívidas e focar na exploração de petróleo e gás.
Os planos para as plantas na Bahia e no Sergipe sofreram atraso devido à oposição de alguns políticos locais, preocupados com os efeitos que um fechamento das unidades poderia ter sobre a economia local.
Em meio à resistência, a Petrobras adiou por mais de uma oportunidade ao longo de 2018 uma planejada hibernação das unidades, anunciando posteriormente que as fábricas seriam arrendadas.
Em fevereiro deste ano, a companhia iniciou a hibernação da fábrica no Sergipe, enquanto uma ação judicial suspendeu o mesmo movimento para a unidade na Bahia, em medida revertida pela petroleira no final de março.
Agora, a Petrobras disse que foi aberta nesta segunda-feira a licitação para arrendamento, com três empresas pré-qualificadas: Proquigel Química S.A., PJSC Acron e Formitex Empreendimentos e Participações Ltda.
A Acron, empresa russa com foco na produção e comercialização de fertilizantes, chegou a entrar em negociações exclusivas com a Petrobras para a comprar Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa) e a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III).
As interessadas deverão apresentar propostas de arrendamento das Fafens até 22 de junho.
"Vence a empresa que apresentar o maior preço para o arrendamento no período de dez anos, renováveis por mais dez", explicou a petroleira estatal no comunicado.
A licitação inclui ainda os terminais marítimos de amônia e ureia no Porto de Aratu, na Bahia, segundo a companhia.
A fábrica da Bahia (Fafen-BA) é uma unidade de fertilizantes nitrogenados com capacidade de produção total de ureia de 1.300 toneladas ao dia --ela produz amônia, gás carbônico e agente redutor líquido automotivo (Arla 32).
Já Fafen-SE é tem capacidade de produção total de ureia de 1.800 t/dia e também comercializa amônia, gás carbônico e sulfato de amônio.
HIBERNAÇÃO IMPACTA
A hibernação da Fafen-SE a partir de fevereiro impactou a balança comercial do setor de produtos químicos, gerando maior necessidade de importações de fertilizantes e defensivos agrícolas pelo agronegócio no primeiro trimestre, disse nesta segunda-feira a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Segundo a entidade, a importação de produtos químicos nos primeiros três meses do ano somou 9,9 bilhões de dólares, alta de 9,9 por cento na comparação anual, e abaixo apenas dos 10,1 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2013, ano de déficit comercial recorde no segmento.
"Os produtos químicos para o agronegócio, com aumentos superiores aos 50 por cento, foram particularmente impactantes para o incremento do valor total importado, sendo muito preocupante o aumento contínuo de preços, acumulado em 14,4 por cento no trimestre, com o anúncio da parada da Fafen", afirmou a Abiquim em nota.
(Por Luciano Costa, com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)