Contrariando a visão de alguns de seus concorrentes, o presidente da General Motors (NYSE:GM)(SA:GMCO34) na América do Sul, Carlos Zarlenga, descartou nesta sexta-feira, 20, o etanol como solução intermediária na transição de tecnologias automotivas, que acontece rápido e, conforme observou, coloca em risco o futuro da indústria automotiva se o Brasil não começar a dar passos em direção aos carros elétricos.
Ao participar nesta sexta de congresso virtual da Autodata, Zarlenga considerou que a propulsão a biocombustível - apontada por parte da indústria como rota de desenvolvimento viável a países emergentes onde os carros elétricos vão demorar mais tempo para chegar - está na contramão da tendência global.
O risco que o Brasil corre ao não buscar a convergência com países que caminham para a eletrificação é terminar o período de transição com uma indústria que produz carros que serão ultrapassados quando as novas tecnologias se tornarem acessíveis à maior parte do mundo. Como consequência, mesmo sendo hoje capaz de produzir 5 milhões de veículos por ano, o Brasil terá de importar automóveis equipados com dispositivos que não são largamente desenvolvidos no País.
"Ou aceleramos a eletrificação, ou ficamos com um portfolio velho de veículos de motor a combustão interna", comentou Zarlenga. "Nosso risco é perder uma das maiores indústrias do mundo em termos de produção porque vamos nos transformar em importadores", acrescentou o executivo.
Após apresentar previsões que apontam participação de 25% a 35% dos carros elétricos no total de veículos novos vendidos no mundo até 2030, sendo que em países que lideram a corrida a tecnologia deve representar, até lá, metade do volume, Zarlenga observou que em nações emergentes o porcentual deve oscilar entre 5% e 10%. No Brasil, disse, os prognósticos são de que os elétricos representem entre 4% e 7% do mercado em 2030, volume que não anima hoje os grupos automotivos a direcionar grandes investimentos na produção da tecnologia no País.
"A eletrificação é uma força inexorável e vai acontecer mais rápido do que a gente esperava até pouco tempo atrás", frisou o executivo, citando a tendência de mais estímulos a carros elétricos em países desenvolvidos como forma de combater o aquecimento global.
"Qualquer um de nós que interage com matrizes, sabe que o Brasil não é destino, neste momento, como investimento para eletrificação. A prioridade não está nos emergentes, e o foco global não está no Brasil", complementou.
Enquanto a resolução de problemas estruturais que afetam a competitividade, como custos tributários e déficits de infraestrutura, demanda tempo, Zarlenga considerou que um bom ponto de partida para o Brasil mudar o jogo seria incentivar a criação de centros tecnológicos. Embora esta também seja uma área que vem perdendo espaço no desenvolvimento de produtos globais, os custos de engenharia no País são competitivos em relação a outros centros.
"Só que isso tem de ser objetivo não só da indústria, mas também do país. É tempo de definir a nossa visão de futuro, construir atratividade e convencer o mundo da atratividade do Brasil", defendeu Zarlenga.