MOSCOU (Reuters) - O marido de Natalia Yermakova, Alexander, luta na Ucrânia há mais de um ano após atender ao chamado de mobilização do presidente russo, Vladimir Putin, como voluntário. Ferido na perna, foi operado e mandado de volta para o front.
Natalia, que acredita no que a Rússia chama de "operação militar especial" contra a Ucrânia, trabalha como voluntária em um "Batalhão Familiar" em Moscou.
Ela é uma dos cerca de 40 familiares, a maioria mulheres, de homens mobilizados que preparam redes de camuflagem, cartazes para marcar campos minados, reúnem velas para serem usadas em abrigos e montam pacotes de comida em seu tempo livre.
Enquanto Putin se posiciona para conquistar um quinto mandato presidencial nas eleições em março, apresentando-se como o homem certo para liderar uma campanha militar que o Ocidente diz ser uma guerra de agressão de estilo colonial, é em pessoas como Yermakova que Putin confia para manter sua base de apoio forte.
O trabalho voluntário ocorre em um escritório que pertence ao partido do governo Rússia Unida, adornado com a bandeira vermelha, azul e branca da Rússia e retratos de políticos como Putin.
Segundo Yermakova, há grupos semelhantes trabalhando em Moscou.
Os familiares revezam-se no acompanhamento das entregas que montam, em uma van com mais de 30 anos, para os militares russos onde Yermakova chama de “os novos territórios” – terras ucranianas anexadas pela Rússia.
"Nós realmente queremos apoiá-los (os soldados) moral e emocionalmente e enviar a eles uma mensagem... de que o que eles estão fazendo lá é necessário para as pessoas daqui", disse Yermakova à Reuters, enquanto fazia uma pausa na confecção de uma rede de camuflagem gigante.
Algumas esposas de soldados russos que lutam na Ucrânia pedem que os seus maridos, que dizem não terem tido descanso suficiente para passarem tempo com as famílias, sejam desmobilizados e seus lugares ocupados por outros.
Yermakova, de 37 anos, no entanto, não partilha dessa preocupação. Ela pôde ficar com o marido por algum tempo, nos vários meses que ele passou se recuperando em Moscou após uma operação na perna.
"Se o nosso governo decidir agir desta forma, significa que é assim que tem de ser", disse Yermakova.
"Acredito que a Rússia está acordando, acordando do seu sono, e entendendo que (a guerra) não está acontecendo sem motivo, e que há razões convincentes para isso."
A fala é uma referência à narrativa do Kremlin de que o conflito faz parte de uma luta existencial mais ampla por uma ordem mundial mais justa contra o que Putin vê como um Ocidente decadente, determinado a conter a Rússia.
O Ocidente classifica as ações da Rússia na Ucrânia como uma apropriação de terras brutal e não provocada, mas a visão encontra pouca aceitação entre russos como Yermakova. Eles acusam a Ucrânia de maltratar a população que fala russo no leste do país desde 2014, quando eclodiu um levante apoiado pela Rússia. Kiev nega a acusação.
(Reportagem da Reuters)