Por Paul Carrel e Michel Rose
BERLIM (Reuters) - A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o novo presidente da França, Emmanuel Macron, concordaram nesta segunda-feira em elaborar uma estratégia para maior integração da União Europeia e abriram as portas para mudanças nos tratados do bloco para facilitar reformas ambiciosas.
Um dia após a posse de Macron, os dois líderes mantiveram um tom consensual em Berlim após conversas nas quais buscaram revigorar a relação franco-alemã e o projeto europeu, que tem sido abalado pelo plano de saída do Reino Unido.
A preparação para o encontro foi marcada por uma discussão entre políticos seniores alemães sobre como responder aos pedidos de Macron por maior integração da UE, com alguns preocupados que Berlim seja solicitada a pagar por Estados conflitantes que resistem a reformas.
Merkel disse que a Alemanha precisa que a França tenha sucesso, enfatizando que “a Europa só irá bem se houver uma França forte”.
“Concordamos que queremos desenvolver uma estratégia para perspectivas a médio prazo da União Europeia”, disse a chanceler durante entrevista coletiva com Macron.
“Há uma convicção comum de que não podemos somente lidar com a saída do Reino Unido (da UE), mas em vez disto devemos acima de tudo pensar sobre como podemos fortalecer a União Europeia existente e especialmente a zona do euro.”
Com a economia da Alemanha – a maior da Europa – superando a da França, o tradicional motor franco-alemão do coração da UE muitas vezes fracassou nos anos recentes. O encontro desta segunda-feira foi um esforço para injetar um pouco de dinamismo na parceria.
Crucialmente, ambos os líderes disseram estar abertos à ideia de uma mudança nos tratados da UE.
O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, um ultraconservador que veio a personificar o foco de Berlim em retenção fiscal, sugeriu que a ideia de Macron de criar um ministro orçamentário e das finanças para a zona do euro é irrealista porque iria necessitar de mudanças politicamente espinhosas no tratado da UE.
Mas os dois líderes disseram poder enfrentar mudanças no tratado.
“No passado, o assunto de mudança no tratado era um tabu francês. Não será mais o caso”, disse o presidente francês, que desembarcou na chancelaria em meio às comemorações de uma multidão que gritava “Macron! Macron!” e balançava bandeiras europeias.
Merkel disse que, do ponto de vista alemão, mudança no tratado seria possível, acrescentando: “Estaria pronta para fazer isto, mas primeiro iremos trabalhar sobre o que queremos reformar”.
Macron buscou dissipar preocupações entre conservadores alemães de que poderia buscar que a zona do euro se desenvolva para uma “união de transferência”, na qual a Alemanha é solicitada a financiar outros Estados.
O presidente, ex-banqueiro de investimentos de 39 anos, disse não apoiar a ideia dos chamados Eurobonds, que podem permitir que países da zona do euro emitam dívidas conjuntamente, com alguns se beneficiando de prêmios de riscos mais baixos graças à credibilidade da Alemanha.
“Nunca defendi (a ideia de) Eurobonds ou a mutualização de dívidas existentes na zona do euro”, disse.
Um firme integracionista europeu, Macron prometeu após assumir no domingo que irá restaurar a posição da França no cenário mundial, fortalecer a autoconfiança nacional e curar divisões que a disputada campanha presidencial abriu.
(Reportagem adicional de Andreas Rinke e Michael Nienaber)