Por Nidal al-Mughrabi
(Reuters) - Os ataques israelenses se intensificaram em Gaza nesta terça-feira, em alguns dos bombardeios mais pesados em semanas, disseram moradores, enquanto o Exército ordenou novas retiradas no norte da faixa, alertando os civis de que estavam em uma “zona de combate perigosa”.
Ataques aéreos e bombardeios de tanques no solo também foram relatados nas regiões do centro e do sul, no que os moradores disseram ser bombardeios quase ininterruptos.
Em publicação na plataforma de mídia social X, o porta-voz do Exército israelense Avichay Adraee instou os moradores de quatro zonas de Beit Lahiya, norte de Gaza, a se abrigarem em duas áreas designadas.
Ele disse que os militares “trabalharão com extrema força contra a infraestrutura terrorista e os elementos subversivos” na região.
O novo ataque no norte de Gaza ocorre quase quatro meses depois que o Exército israelense anunciou que estava retirando suas tropas de lá, dizendo que o Hamas não controlava mais essas áreas.
Este mês, Israel também retirou a maior parte de suas forças no sul de Gaza. Mas os esforços para chegar a um cessar-fogo fracassaram, e os bombardeios e ataques israelenses no território onde as tropas se retiraram estão dificultando o retorno dos habitantes de Gaza deslocados às casas abandonadas.
Durante a noite, tanques do Exército fizeram uma nova incursão a leste de Beit Hanoun, no extremo norte da Faixa de Gaza, embora não tenham penetrado muito na cidade, disseram os residentes e a mídia do Hamas. Tiros atingiram algumas escolas onde os moradores deslocados estavam abrigados.
Em Israel, onde os escritórios do governo e as empresas estavam fechados para comemorar feriado judaico, os alertas de foguetes soaram nas cidades da fronteira sul, mas não houve registro de vítimas.
O braço armado da Jihad Islâmica, um grupo aliado ao Hamas, reivindicou a responsabilidade pelos ataques com foguetes em Sderot e Nir Am, indicando que os combatentes ainda são capazes de lançá-los após quase 200 dias de guerra que arrasou grandes áreas do enclave e deslocou quase todos os seus 2,3 milhões de habitantes.
O Hamas disse que Israel alcançou apenas “humilhação e derrota” 200 dias após o início de sua ofensiva.
Falando em vídeo transmitido pela televisão Al Jazeera, Abu Ubaida, porta-voz do braço armado do Hamas, apelou a uma escalada do conflito em todas as frentes e elogiou o Irã pelo seu primeiro ataque direto contra Israel.
Ele também disse que o Hamas está mantendo as suas exigências nas negociações de cessar-fogo para que Israel ponha fim permanentemente à guerra, retire todas as suas tropas de Gaza e permita que os deslocados regressem ao norte.
Israel tem recusado um cessar-fogo permanente, dizendo que isso apenas permitiria o reagrupamento do Hamas.
Uma espessa fumaça preta podia ser vista subindo no norte de Gaza, vinda da fronteira sul de Israel. Os bombardeios foram intensos a leste de Beit Hanoun e Jabalia e continuaram na manhã de terça-feira em áreas como Zeitoun, um dos subúrbios mais antigos da Cidade de Gaza, com moradores relatando pelo menos 10 ataques em questão de segundos ao longo da estrada principal.
NOITE DE HORROR
"Foi uma daquelas noites de horror que vivemos no início da guerra. Os bombardeios de tanques e aviões não paravam", disse Um Mohammad, 53 anos, mãe de seis filhos que mora a 700 metros de Zeitoun.
"Tive que me reunir com meus filhos e minhas irmãs que vieram se abrigar comigo em um só lugar e rezar por nossas vidas, pois a casa não parava de tremer", afirmou ela à Reuters por meio de um aplicativo de bate-papo.
"Não sei se conseguiremos sobreviver antes que essa guerra acabe", acrescentou.
O Exército israelense disse que os foguetes lançados durante a noite contra Israel vieram de posições de tiro no norte de Gaza. O Exército israelense atingiu lançadores de foguetes e matou vários militantes durante a noite, no que chamou de ataques "direcionados e precisos".
"No último dia, os caças IAF e outras aeronaves atingiram aproximadamente 25 alvos terroristas em toda a Faixa de Gaza, incluindo infraestrutura militar, postos de observação, terroristas e postos de lançamento", afirmou em um comunicado.
Israel diz que está tentando erradicar o Hamas, que controla o enclave, após um ataque do grupo militante em 7 de outubro que matou 1.200 pessoas e fez 253 reféns, segundo os cálculos israelenses.
Em toda a Faixa de Gaza, os ataques militares de Israel mataram 32 palestinos e feriram outros 59 nas últimas 24 horas, segundo as autoridades de saúde palestinas. Elas dizem que mais de 34.000 pessoas foram confirmadas como mortas na guerra de sete meses, com milhares de outros corpos ainda não encontrados.
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi, no Cairo, e Maayan Lubell, em Jerusalém)