Por Nathan Frandino
STANFORD, Califórnia (Reuters) - À medida que os Jogos Olímpicos de Paris se aproximam, as temperaturas do verão continuam a subir, levando aos atletas desafios adicionais na tentativa de trazer medalhas para casa.
A expectativa é de que o calor aumente no verão europeu após os recordes registrados em 2023, e, embora seja muito cedo para uma previsão exata para julho, a agência meteorológica nacional Meteo-France disse que as condições mais quentes do que o normal são mais prováveis.
Não haverá aparelhos de ar condicionado os quartos dos atletas em Paris 2024, que se comprometeu a sediar os Jogos mais ecológicos de todos os tempos. Por isso, eles terão que prestar mais atenção à temperatura corporal durante os treinos, recuperação e competições.
"Pode ser muito quente e miserável (em Paris), como foi em Tóquio durante os últimos Jogos Olímpicos", disse à Reuters Craig Heller, professor de biologia da Universidade de Stanford, especializado em regulação da temperatura corporal.
"E esse aumento na temperatura ambiente tem muitos efeitos sobre o desempenho."
A Universidade de Stanford, na área da baía da Califórnia, é bem conhecida pelos atletas olímpicos, com pelo menos um medalhista ligado à escola em todos os Jogos desde 1912. Os atletas afiliados a Stanford ganharam 26 medalhas em Tóquio e 27 no Rio em 2016.
Os pesquisadores da instituição, como Heller, tiveram a oportunidade de estudar a regulação da temperatura corporal, e a proximidade com o Vale do Silício permitiu que a tecnologia entrasse no jogo.
RESFRIAMENTO DO SANGUE
Heller foi co-inventor do CoolMitt, um dispositivo usado como uma luva na mão que ajuda a extrair o calor enquanto resfria o sangue que circula de volta ao coração e aos músculos do atleta.
Ele foi projetado para ser usado durante os intervalos dos jogos, entre as séries e as repetições na academia ou em qualquer intervalo curto no treinamento ou na competição.
"Se você retira o calor do núcleo do corpo, isso evita que o calor se acumule nos músculos ativos, e eles continuam trabalhando", disse Heller.
"Portanto, o que a CoolMitt faz é evitar a hipertermia, o aumento da temperatura corporal em um nível perigoso. E, portanto, permite que você tenha um volume de trabalho maior. E se você tiver um volume de trabalho maior, terá um efeito de condicionamento maior."
Usado pela USA Wrestling e pelo esgrimista americano Alex Massialas, o CoolMitt tem como alvo as superfícies da pele que não têm pelos e "contêm estruturas vasculares especializadas que facilitam a perda de calor", de acordo com um estudo.
Uma vez dentro da luva, a palma da mão repousa em uma almofada com infusão de água ajustada para 10º a 12º Celsius.
A almofada retira o calor e resfria o sangue do atleta antes que ele atinja o nível de vasoconstrição, diminuindo o fluxo sanguíneo.
Tyler Friedrich, diretor associado de atletismo para desempenho aplicado na Universidade de Stanford, trabalha em programas de força e condicionamento com atletas no campus, incluindo alguns que foram a Tóquio e provavelmente vão a Paris.
"Sabemos que, se estivermos superaquecidos, não teremos o desempenho que desejamos ou que deveríamos ter. Portanto, regular o calor e a temperatura central em alguns casos pode ser crítico e vital para o desempenho em alto nível", disse Friedrich.
Segundo ele, banhos de gelo e toalhas frias são frequentemente usados por atletas, mas não necessariamente eficazes.
Um estudo recente sugeriu a necessidade de mais pesquisas para comprovar a eficácia das práticas de imersão em água fria.
Friedrich disse que o CoolMitt fez a diferença.
"Eles (os atletas) percebem que, no final do jogo, sentem que têm tanto ânimo ou pique quanto tinham no início", disse.
"Isso é muito importante, tanto para o desempenho psicológico quanto para os resultados e o desempenho reais."
(Reportagem de Nathan Frandino)