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Por Lovasoa Rabary e Tim Cocks e Giulia Paravicini
ANTANANARIVO (Reuters) - O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, fugiu do país africano, disse o chefe da oposição, uma fonte militar e um diplomata estrangeiro nesta segunda-feira, a segunda vez que jovens manifestantes derrubaram um governo em pouco mais de um mês de agitação mundial da Geração Z.
Siteny Randrianasoloniaiko, líder da oposição no Parlamento, disse à Reuters que Rajoelina deixou Madagascar no domingo, depois que unidades do Exército desertaram e se juntaram aos manifestantes.
"Ligamos para a equipe da Presidência e eles confirmaram que ele deixou o país", disse ele, acrescentando que o paradeiro de Rajoelina era desconhecido.
O gabinete do presidente não respondeu aos pedidos de comentário.
Em um discurso à nação transmitido pelo Facebook na noite desta segunda-feira (horário local), Rajoelina disse que teve que se mudar para um local seguro para proteger sua própria vida. Ele não revelou seu paradeiro, mas pareceu desafiador, dizendo que não iria "permitir que Madagascar fosse destruída".
A fonte diplomática disse, após o discurso, que Rajoelina estava se recusando a renunciar.
PRESIDENTE PARTIU EM AVIÃO MILITAR FRANCÊS
Uma fonte militar disse à Reuters que Rajoelina saiu de Madagascar, uma ex-colônia francesa, em um avião militar francês no domingo. A rádio francesa RFI disse que ele havia fechado um acordo com o presidente Emmanuel Macron.
Macron, falando no Egito após uma cúpula sobre o cessar-fogo em Gaza e o acordo com os reféns, disse que não poderia confirmar imediatamente os relatos de que a França havia ajudado Rajoelina a fugir do país. Ele acrescentou que a ordem constitucional precisa ser preservada em Madagascar e que, embora a França compreenda as queixas dos jovens do país, essas queixas não devem ser exploradas por facções militares.
A fonte militar informou que uma aeronave Casa do Exército francês pousou no aeroporto de Sainte Marie, em Madagascar, no domingo. “Cinco minutos depois, um helicóptero chegou e transferiu seu passageiro para o Casa”, disse a fonte, acrescentando que o passageiro era Rajoelina.
As manifestações eclodiram no país em 25 de setembro por causa da escassez de água e energia, mas rapidamente se transformaram em uma revolta por causa de queixas mais amplas, incluindo corrupção, má governança e falta de serviços básicos.
A raiva refletia os recentes protestos contra as elites governantes em outros lugares, inclusive no Nepal, onde o primeiro-ministro foi forçado a renunciar no mês passado, e no Marrocos.
PRESIDENTE PERDEU APOIO DO EXÉRCITO E DA GENDARMERIA
Rajoelina parecia cada vez mais isolado depois de perder o apoio da Capsat, uma unidade de elite que o ajudou a tomar o poder em um golpe de 2009.
A Capsat juntou-se aos manifestantes no fim de semana, dizendo que se recusaria a disparar contra eles e escoltando milhares de manifestantes na praça principal da capital Antananarivo.
Posteriormente, disse que estava assumindo o comando das Forças Armadas e nomeou um novo chefe do exército, o que levou Rajoelina a alertar no domingo sobre uma tentativa de tomada do poder.
Nesta segunda-feira, uma facção da gendarmeria paramilitar que apoiava os protestos também assumiu o controle da gendarmeria, nomeando um novo chefe para a força em uma cerimônia formal na presença de altos funcionários do governo, disse uma testemunha da Reuters.
O presidente do Senado, foco da ira pública durante os protestos, foi destituído de suas funções, informou o Senado em um comunicado. Jean André Ndremanjary foi nomeado seu substituto em caráter temporário.
Se o cargo de presidente ficar vago, o líder do Senado assume o posto até a realização de eleições.
"O PRESIDENTE PRECISA RENUNCIAR"
Nesta segunda-feira, milhares de pessoas se reuniram em uma praça na capital, gritando: "o presidente precisa renunciar agora".
O funcionário de hotel Adrianarivony Fanomegantsoa, 22 anos, disse à Reuters que estava se juntando aos protestos porque seu salário mensal de 300.000 ariarys (cerca de US$67) mal dava para cobrir a alimentação.
"Em 16 anos, o presidente e seu governo não fizeram nada, exceto enriquecer, enquanto o povo continua pobre. E os jovens, a Geração Z, são os que mais sofrem", disse ele.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas em confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança desde 25 de setembro, de acordo com a Organização das Nações Unidas.
Madagascar, onde a idade média é inferior a 20 anos, tem uma população de cerca de 30 milhões de habitantes, três quartos dos quais vivem na pobreza. O PIB per capita caiu 45% desde a época da independência em 1960 até 2020, de acordo com o Banco Mundial.
No que parece ter sido um de seus últimos atos antes de deixar o país, Rajoelina concedeu perdão a várias pessoas no domingo, incluindo dois cidadãos franceses, de acordo com um documento interno visto pela Reuters, cujo conteúdo foi verificado por uma fonte da Presidência.
Os dois cidadãos franceses, Paul Maillot Rafanoharana e François Marc Philippe, foram condenados por minar a segurança do Estado em uma tentativa de golpe em 2021.