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"Animal Spirits"

Publicado 11.12.2012, 12:06
Atualizado 09.07.2023, 07:32

John Maynard Keynes (JMK), economista inglês da primeira metade do século XX e autor do livro “Teoria Geral do Emprego, do Juro e Moeda” (1936), foi um dos maiores teóricos do capitalismo.

Sua contribuição mais importante surgiu por ocasião da grande depressão norte-americana dos anos 30 (gerada pelo crash da bolsa de NY em 1929), quando defendeu uma série de políticas fiscais anticíclicas na superação dos chamados “períodos de insuficiência de demanda efetiva”.

Estas políticas fiscais keynesianas visavam estimular a economia e tirá-la do imobilismo em que se encontrava, pela falta de confiança ou ânimo dos empresários em se recuperar, dado o alto desemprego, quebradeiras, etc. JMK acreditava que em momentos mais agudos de crise, de total descrença no futuro, o setor público deveria atuar na vanguarda, criando condições propícias (e confiança) para que o empresário privado tivesse ânimo para voltar a produzir e investir.

Segundo Keynes, estímulos de investimento não podem ser entendidos, meramente, como uma função linear da taxa de juros da economia. Os empresários privados investem de acordo com suas expectativas de lucro (retorno da Eficiência Marginal do Capital), fundamentalmente, psicológicas e voláteis, determinadas pelo ambiente de negócios da economia. A estas expectativas de lucros que levam os empresários a investir, dá-se o nome de "animal spirits" (espírito animal, medido pelo seu estado de ânimo).

"Mesmo para além da instabilidade, devido à especulação, não é a instabilidade, devido à característica da natureza humana, que uma grande proporção de nossas atividades positivas depende do otimismo espontâneo, em vez de expectativas matemáticas, sejam morais, hedonistas ou econômicas. A maioria, provavelmente, de nossas decisões de fazer algo positivo, as consequências dos quais serão sorteadas ao longo de muitos dias, só podem ser tomadas como resultado de espíritos animais - um impulso espontâneo para a ação, em vez de inércia, e não como resultado de uma média ponderada dos benefícios quantitativos multiplicados por probabilidades quantitativas."


John M Keynes, The General Theory of Employment, Interest and Money, London: Macmillan, 1936, pp. 161-162


No nosso entender, é isto que está faltando aos empresários neste momento de transição que a economia brasileira atravessa. Basicamente, está faltando confiança no futuro.

Nas últimas semanas, uma série de medidas de estímulo vem sendo anunciadas, neste caso, visando estimular a oferta agregada (e não apenas a demanda). Podemos elencar várias: redução dos custos de produção, através da desoneração da folha de pagamentos, redução do custo de energia, isenção de IPI para bens duráveis, dentre outras; aumento da oferta de crédito, através do BNDES; depreciação cambial, visando estimular as exportações de manufaturados; redução da taxa básica de juros, etc.

Mesmo assim, não dá para dizer que estas estejam dando resultado, embora seja cedo para diagnósticos mais definitivos. Mesmo assim, a economia continua de lado, fragilizada. Isto, inclusive, pode ser visto pelos dados do PIB do terceiro trimestre, mostrando os investimentos ainda muito retraídos, enquanto o consumo das famílias segue em trajetória de expansão. Em quatro trimestres, o PIB geral cresceu 0,9% e a Formação de Capital Fixo retraiu 2,4%. Contra o mesmo trimestre do ano passado, a queda foi de 5,6%, repetindo os cinco trimestres anteriores, enquanto o PIB cresceu 0,9%.

Dentre os fatores a explicarem este fraco desempenho do PIB no terceiro trimestre, podemos destacar o cenário externo crítico, as inconstantes intervenções do governo Dilma no mercado, como na renovação das concessões de geradoras de energia elétrica, no represamento da rentabilidade da Petrobras (congelamento da gasolina), no uso de bancos públicos para forçar os privados a reduzir o spread bancário. São estas idas e vindas que estão afetando o ânimo dos empresários.

Nossa expectativa, no entanto, é de que a economia comece a reagir a partir deste final de ano e início do próximo, já que uma série de eventos acontece, como as obras do PAC (rodovias, ferrovias, portos, etc), as Olimpíadas, a Copa do Mundo, etc.

Claro que será importante, no entanto, que o embate entre o governo e o mercado dê uma pausa. Não dá para pensar em investir num cenário em que a cada momento podem ocorrer novas rupturas entre o governo e o setor produtivo, em muitas escondendo-se certo ranço do passado. Mesmo assim, é neste cenário de transição (ou indefinição) institucional que estamos revendo nossas projeções econômicas básicas para 2012 e 2013.

Crescimento do PIB. Estamos revendo nosso crescimento neste ano, de 1,4% para 1,2% e em 2013, de 4,0% para 3,6%, diante do cenário de transição atual. Por outro lado, acreditamos na reação dos investimentos na virada deste ano para o próximo. Atualmente, a taxa de investimento se encontra em torno de 19% do PIB e a poupança em 15,5%. Pelo lado dos investimentos do setor público temos algo em torno de 2% do PIB, sendo possível algum avanço nos próximos meses, diante do grande volume de projetos em curso. O potencial de crescimento da economia brasileira, no entanto, se encontra entre 3,5% e 4,0%, limitado pelo mercado de trabalho apertado (falta de capital humano e reajustes salariais acima da produtividade) e os baixos investimento e poupança. Lembremos que o crescimento potencial acontece quando se tem uma situação neutra de desemprego e inflação. Ou seja, para crescermos de forma sustentável acima de 4%, será essencial que os investimentos saiam do papel e se transformem em algo concreto, mas sem aumento de custos. Isto porque estamos numa fase da economia brasileira em que os custos de mão de obra e insumos estão muito altos, além da infraestrutura precária.

Regime monetário - taxa básica de juros. O BACEN afirmou na ata do COPOM da semana passada que manterá a taxa de juros atual por um período “prolongadamente estável, buscando o centro da meta de inflação, mesmo que de forma não linear”. Ou seja, é possível que tenhamos a taxa básica de juros a 7,25% anuais ao longo de 2013, embora o mesmo não possa ser dito em relação a 2014. Ainda existem muitos desequilíbrios na economia brasileira para termos esta certeza. Um fato que pode servir de alento é o BACEN dispor hoje de um arsenal muito mais amplo de instrumentos de política monetária, dado o volume de crédito na economia, hoje em torno de 50% do PIB. Neste contexto, se necessário for, as medidas macroprudenciais (que substituem a elevação do juro) devem ser adotadas.

Regime cambial - taxa de câmbio. Os movimentos recentes do BACEN com as medidas da semana passada indicam que o governo definiu uma nova banda cambial, com teto em R$ 2,10. A ampliação nos prazos das operações de ACC, de um para cinco anos, e a redução nas captações externas para um ano isentas de IOF de 6% na semana passada reforçam esta tese. Isto demonstra uma preocupação do governo com a inflação e com o endividamento das empresas, assim como observa que a crise externa vem tendo importante contribuição para o fraco desempenho do comércio exterior neste ano. Sendo assim, estamos mantendo o câmbio no intervalo de R$ 2,08 a R$ 2,15 neste ano e no próximo, respectivamente.

Inflação. Por fim, estamos trabalhando com a inflação no intervalo de 5,5% a 6,0% pelo IPCA para 2013. Sobre os riscos devemos citar os seguintes: preços dos serviços flutuando em torno de 8% nos últimos meses, pela alta inércia inflacionária existente, além do mercado de trabalho aquecido; reajuste de combustível devendo se confirmar neste primeiro trimestre de 2013; possíveis impactos dos preços dos alimentos e bebidas no início de 2013; choques agrícolas como inevitáveis ao longo do ano; fim da isenção do IPI para bens duráveis em janeiro (se não for prorrogado). Por outro lado, a redução das tarifas de energia (próxima a 16%) pode mitigar parte destes riscos.

Enfim, vivemos um período de transição na economia brasileira. As medidas adotadas fazem sentido, por ser um esforço para torná-la mais eficiente. No entanto, seria muito melhor se outras viessem juntas, como um choque de desburocratização (para tornar o ambiente de negócios mais “limpo”); desoneração da folha de pagamentos linear, para todos os setores (e não para alguns “eleitos”); reforma tributária mais ampla e profunda; desaparelhamento político das agências de regulação; mais privatizações, principalmente, nos setores de infraestrutura e logística.

São tantas as demandas, tantas as pendências. Tanto investimento ainda precisa ser feito pelo governo ou em parceria com o setor privado. Estamos atrasados, muito atrasados. E é este “estado de coisas” que nos ajuda a explicar a ausência do tal animal spirits dos empresários.

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