Nesta época do ano passado, o foco das atenções dos mercados era a impressionante disparada das criptomoedas. Agora, os investidores estão atônitos querendo saber se o Bitcoin vai perder o patamar de US$ 3000 e possivelmente afundar ainda mais, levando consigo outras moedas alternativas na espiral descendente.
Que diferença um ano pode fazer!
Enquanto as moedas digitais continuam se desvalorizando, um aspecto menos visível do declínio dessa classe de ativos começa a ganhar destaque. O modelo de negócios da mineração de criptomoedas também está mudando rapidamente. Será que existe uma correlação entre a produção das mineradoras e a depressão nos preços?
Má notícia para mineradores e fornecedores de equipamentos
As últimas notícias sobre as mineradoras de criptomoedas não são nada boas. Na segunda-feira, 19 de novembro, surgiu a notícia de que a empresa norte-americana de mineração Giga Watt entrou com pedido de falência.
No início de novembro, as ações da NVIDIA (NASDAQ:NVDA) sofreram um duro golpe, caindo quase 19%, depois que a fabricante de chips divulgou resultados para o 3T abaixo das expectativas e rebaixou suas perspectivas futuras por causa do estoque não vendido em razão da evaporação do boom da mineração de criptomoedas.
Um economista afirmou o seguinte no Twitter (NYSE:TWTR):
Como eu havia avisado, o crash no #BTC #BTCUSD e o aumento das tarifas de energia sobre os mineradores forçarão as baleias do #Bitcoin a se desfazer das suas moedas para levantar recursos. Noruega, China, EUA, todos estão aumentando as tarifas de energia sobre os mineradores e/ou cortando subsídios, levando-os à falência. +
+ Como os mercados do seu “capital” fixo (plataformas de mineração) carecem de liquidez, os preços dessa infraestrutura usada despencaram, deixando os mineradores com apenas uma opção: vender suas reservas de BTC e correr para as montanhas.
O declínio dos preços faz sentido, segundo Frank Wagner, CEO e cofundador da INVAO. Os preços das criptomoedas são influenciados pela lei de oferta e demanda:
“Como a mineração está caindo, menos mineradores vão vender moedas. Provavelmente isso vai diminuir a pressão vendedora no mercado, o que pode aumentar o valor dos ativos."
David Tabachnikov, cofundador e inovador de Blockchain na Jerusalem Chain, afirma que, à medida que o incentivo financeiro diminui, o número de mineradores também cai. No entanto, ainda existe uma estrutura instalada que mantém os incentivos econômicos, mesmo que para apenas alguns mineradores, independente dos preços:
“Com o Bitcoin, o nível de dificuldade é reavaliado aproximadamente a cada 2 semanas. Em 1-2 meses, o preço de mineração cairá e se ajustará ao preço de mercado.O que se aplica também ao custo de mineração. Digamos que os preços caiam abaixo de US$ 3000. Os mineradores da Alemanha ou EUA provavelmente vão pular fora.Mas não tínhamos tantos mineradores de lá, em primeiro lugar.As grandes companhias que se endividaram para expandir irão à falência.Mas os mineradores menores na Bielorrússia, Kuwait, Trinidad ou Venezuela, onde o custo de mineração é menor do que US$ 2000, vão permanecer”.
Tabachnikov acredita que os mineradores que investiram em unidades de processamento gráfico, hardwares mais genéricos, em vez de circuitos integrados (ASICs) específicos para Bitcoin, ajustarão suas atividades para outros blockchains, como Ethereum ou EOS, onde o custo de mineração é menor. Ele acredita que os mineradores provavelmente vão vender qualquer criptomoeda que não for rentável, impulsionando os preços para baixo. “Mas os mineradores que investiram em ASICs — que só podem fazer a mineração de Bitcoin — vão se manter no ativo o quanto puderem”, conclui.
Mudando os métodos de mineração
As técnicas de mineração também estão sendo questionadas. "A mineração PoW (por “prova de trabalho”) é uma proposta econômica fundamentalmente irracional", afirma Seth Patinkin, CEO da Ampersand Markets. O protocolo PoW requer que cada bloco ou transação de mineração seja verificado, o que encarece o processo. Além disso, segundo Patinkin, “a estrutura de incentivos, que agora prova ser insustentável, está afetando a integridade dos blockchains PoW, levantando sérias dúvidas sobre a capacidade do Bitcoin como forma de pagamento”.
Quando uma ação afunda, explica Patinkin, é possível encontrar um suporte, porque os ativos da companhia sugerem um limite para a capitalização de mercado, mesmo que seja menor. Isso não se aplica às principais criptomoedas, que geralmente não têm um respaldo físico. Quem está comprado pode cair em uma armadilha fatal.
“A saúde do ecossistema das criptomoedas depende em grande medida do engajamento dos mineradores PoW que foram dizimados pela recente deterioração da estrutura de preços”.
Entretanto, alguns analistas de criptomoedas rejeitam essa conexão entre a mineração de criptoativos e a deterioração dos preços. Alex Mashinsky, CEO da Celsius afirma:
“Os problemas que as empresas de mineração estão enfrentando não impactam os preços do BTC. A produção total de novas moedas BTC permanecerá igual, mesmo que metade dessas empresas feche as portas. Restariam mais BTC para cada uma das empresas remanescentes.”
De acordo com Mashinsky, o que está impulsionando a pressão de venda é a contínua inundação de más notícias, além dos atrasos de grandes instituições e corretoras, como a ICE (NYSE:ICE), em lançar serviços focados em criptomoedas. Ele acredita que existem atualmente diversos fatores que alimentam a queda, o que torna impossível apontar um único catalisador:
“Existem também mais de 400 hedge funds de criptomoedas enfrentando liquidações e retiradas de suas LPs. Alguns caíram 50%. Além disso, corretoras como a BitMex, que permitia uma alavancagem de até 100x, estão vendo uma aceleração das vendas, já que foram forçadas a liquidar algumas das maiores posições alavancadas na compra de BTC.”