O futuro do presidente Michel Temer começa a ser definido hoje, com a apresentação do relatório do deputado Sérgio Zveiter na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a partir das 14h30. E as indicações são de acatamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva.
O relator da denúncia promete um voto sucinto e conclusivo, que levará pouco mais de uma hora, e afirmou que o nome dele não estará na "mesma lama" em que a opinião pública tem colocado políticos alvos de investigação criminal. O governo prevê se prepara para o pior cenário - ou seja, um parecer contrário de Zveiter - e decidiu intensificar as articulações.
De volta a Brasília desde sábado, após sair às pressas da reunião de cúpula do G-20, na Alemanha, Temer reuniu-se por mais de cinco horas com líderes da base governista ontem. O encontro no Palácio da Alvorada serviu para montar uma reação na Câmara, em uma tentativa de barrar na CCJ o avanço da denúncia contra o presidente.
Temer determinou que os aliados acelerem a substituição de integrantes da CCJ que tendem a votar contra ele. Essas trocas devem acontecer já nesta segunda-feira, de modo a derrotar o parecer de Zveiter. O presidente espera ter 39 votos a favor na comissão, mas tenta obter o apoio de 41 deputados.
A situação para o presidente permanecer no cargo está cada vez mais difícil e o principal aliado, o PSDB, já fala abertamente em relação a um substituto como solução para a crise política. O comando do partido marcou uma reunião de emergência para hoje para discutir a saída do governo.
Os sinais de ingovernabilidade abrem caminho para uma terceira pessoa à frente do país em menos de quatro anos e o nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cresceu na mesa de apostas. As promessas de manutenção da equipe econômica e da agenda de reformas – retomando as discussões sobre a Previdência - podem mantê-lo no Executivo até 2018.
Desse modo, Maia unificaria todos os partidos em torno de uma causa comum e seria chancelado por uma eleição indireta, convocada em até seis meses.Apesar das condições favoráveis a Maia, ainda há chance de Temer seguir na Presidência. Afinal, por mais que a CCJ emita um parecer favorável à denúncia, dificilmente o plenário da Casa alcançará a marca de 342 deputados para encaminhar o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Um teste importante para medir o apoio do governo no Congresso é a votação da reforma trabalhista no Senado nos próximos dias. A hipótese ainda é de aprovação, mas a margem apertada de votos, com 42 senadores favoráveis de um total de 81, pode adiar a votação em mais uma semana, de modo a obter maior solidez no placar.
A questão é que o governo tem pressa. Afinal, quanto mais o tempo passar e as pautas na Câmara e no Senado não avançarem, maiores são as chances de surgirem novas denúncias contra Temer e também novas delações. A do ex-doleiro Lúcio Funaro e a do deputado cassado Eduardo Cunha já estão no forno, podendo comprometer de vez o presidente.
Com o presidente dia após dia no fio da navalha, o calendário de eventos e indicadores econômicos deve ficar em segundo plano. Ainda assim, merecem atenção os indicadores domésticos da semana, com destaque para as vendas no varejo (quarta-feira); o volume do setor de serviços (quinta-feira) e o índice de atividade econômica (sexta-feira).
Após a agenda de indicadores da semana passada reforçar a tendência de desinflação no país, permitindo a manutenção no ritmo de cortes nos juros básicos (Selic) neste mês, o foco do mercado doméstico nesta semana estará na evolução da atividade econômica em maio, lançando luz sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Além disso, saem os dados atualizados da safra agrícola, amanhã.
Na agenda externa, indicadores de atividade nos Estados Unidos e na zona do euro também merecem atenção. Mas o destaque fica apenas para sexta-feira, quando saem as vendas no varejo europeu a produção industrial norte-americana, ambos em junho. Nesse mesmo dia, também será conhecida a inflação ao consumidor (CPI) nos EUA no mês passado.
Esses números tendem a consolidar o caminho para uma terceira elevação da taxa de juros pelo Federal Reserve neste ano, em dezembro. Mas o mercado vai esperar o tom do discurso da presidente do Fed, Janet Yellen, na quarta e quinta-feira, para medir o ímpeto do Banco Central dos EUA em seguir com o plano de reduzir os estímulos monetários.
Essa mesma disposição por parte do Banco Central Europeu (BCE) pode ser calibrada com os dados de atividade na região da moeda única. Na quarta-feira, será conhecida o desempenho da indústria na zona do euro. Na China, são esperados os dados de junho da balança comercial (quarta-feira).
O país asiático já anunciou que o índice de preços ao produtor (PPI) cresceu 5,5% em junho em relação a um ano antes, dentro do esperado e sinalizando demanda robusta, ao passo que o índice de preços ao consumidor avançou 1,5% no período, abaixo da previsão de +1,6%. Ao longo do dia, saem os levantamentos semanais do BC local junto ao mercado financeiro (8h25) e da balança comercial (15h). Nos EUA, será divulgado apenas o crédito ao consumidor em maio (16h).
Por ora, os mercados internacionais ensaiam uma melhora, com os investidores confiantes na recuperação econômica global, apesar da ausência de novidades no encontro do G-20. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, assim como as principais bolsas europeias, enquanto o dólar está estável frente aos rivais e o petróleo também está de lado.