“INVESTMENT GRADE!”
“SAIU O INVESTMENT GRADE!”
Gritou o trader de crédito, a plenos pulmões, no meio da mesa de operações do banco. Os volumes das caixinhas de viva-voz, que permitem a comunicação em tempo real entre traders e brokers, foi subindo, ordens de compra saindo de todo lado.
A Bolsa fechou com alta de mais de 6 por cento.
Champanhe. Risadas. Euforia.
O Cristo decolara e, naquela quarta-feira, ia faltar vaga no estacionamento do Café Photo.
Alegria de trader dura menos que de pobre.
Não deu nem seis meses para a quebra do Lehman Brothers fazer a Bolsa derreter impressionantes 60 por cento. Era o fim do mundo – ao menos da forma como o conhecíamos, diria Michael Stipe.
CMOs, CDOs, subprime: todo mundo virou especialista no mercado de crédito imobiliário americano. A volatilidade diária do Ibovespa era quase insuportável.
A marola bateu forte na Faria Lima.
Em menos de um ano, depois de Lula abrir os cofres e a China começar a mostrar a que veio, tudo era festa novamente. A Bolsa mais do que dobrou, vários ativos sofreram o milagre da multiplicação – 3x, 4x, 10x.
E eu?
Fiquei lá, sentado e olhando tudo aquilo acontecer, bem diante dos meus olhos.
Conheço gente que comprou NTN-B com cupom a 12 por cento e garantiu a aposentadoria. Jurei de pés juntos que nunca mais deixaria uma oportunidade dessas passar.
Corta para 2016.
Dilma está praticamente se acorrentando à cadeira. Joaquim Levy já tinha dado lugar a Nelson Barbosa na Fazenda e toda a baixaria das eleições parecia brincadeira de criança comparada ao que se viu durante o processo de impeachment.
“Bessias” é testemunha.
Enquanto o mercado inteiro procurava o alçapão do Stuhlberger, uma carteira sistemática começava a apitar desesperadamente. Vários sinais de compra. Um deles: Magazine Luiza (SA:MGLU3).
E eu?
Comprei umas coisinhas, mas sem aquela convicção toda. Não foi nessa crise que enchi a mão de MGLU3 e garanti minha aposentadoria.
“A noite é mais escura logo antes do amanhecer”, mas dá um medo danado de andar por aí sem enxergar um palmo à sua frente.
De novo, a festa acabou cedo: estamos agora de volta aos 70 mil pontos – nada, nada, lá se foram 30 por cento em dólares.
O mercado depende mais de lítio do que aquela galerinha descolada de Seattle – da lama ao caos em menos tempo do que leva para soletrar “pesquisa eleitoral”. Claro que uma revolta das carretas sempre dá uma forcinha.
O medo da vez é Ciro. Ou seria Bolsonaro? Na verdade, o medo é Alckmin. Incapaz de decolar e pressionado pelo partido, tem jogado guardanapos sobre as mesas de restaurantes paulistanos.
Se tivesse quebrado um prato no chão, quem sabe?
Nunca o desculpei por pegar leve nas eleições de 2006 – Lula tinha o escândalo do mensalão nas costas e o médico de Pinda queria discutir plano de governo em cadeia nacional. Onde já se viu uma coisa dessas?
A política brasileira não é lugar para gente controlada, doutor.
O que dá voto é sair pedindo a cabeça do Parente, prometer o fim do teto de gastos e anunciar um Bolsa Família turbinado, com bastante farinha e um pouco de cachaça, para ajudar a descer. Reforma da Previdência? Só se for na sua. Na minha, ninguém mexe.
Meu direito, minhas regras.
Todo mundo até sabe que é mentira. Mas, como em um grande show de mágica, a gente só quer ser enganado, dar umas risadas e fingir um pouco de espanto.
Pode ser que piore um pouco ainda, que a Bolsa caia mais, que o dólar ultrapasse os 4 reais. Mas, uma hora ou outra, enquanto uns falam em juros a 6 por cento nos EUA e outros se assustam com o preço da gasolina, a Bolsa vai voltar a andar.
E eu?
Vou desejar ter comprado enquanto estava barato e ter garantido minha aposentadoria.
Será que, assim como os eleitores brasileiros, não aprendi minha lição?
Tem um monte de ação boa no meio deste banho de sangue.
Só é preciso perder o medo de andar no escuro.
Por enquanto, nenhuma alvorada no horizonte: a inflação acelerou bem mais do que o previsto, Ibovespa Futuro cai mais um pouco e o dólar, reagindo à fala de Ilan, recua 2 por cento.