Na coluna de hoje, vou falar novamente sobre o nível de risco-país, uma importante medida de risco de crédito considerada por investidores estrangeiros ao investir em determinado país, geralmente um mercado emergente como o Brasil.
Nessa semana o custo do swap de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) de cinco anos do Brasil, uma medida do risco de calote do país, caiu para 126 pontos-base, menor nível desde setembro de 2014, quando o Brasil ainda tinha a classificação de grau de investimento pelas agências de rating.
O CDS é um contrato que funciona como um seguro de carro. Neste caso, o investidor compra um seguro contra o “calote” ou eventos de crédito, ou seja, o governo brasileiro fica inadimplente (default) e falha em fazer pagamentos da sua dívida externa. Quanto mais alto for esse prêmio de seguro (CDS), mais arriscado será investir em títulos de dívida externa do Brasil.
Dê uma olhada no gráfico abaixo, que mostra o desempenho do dado nos últimos 2 anos.
O risco-país medido pelo CDS subiu do patamar de 150 para 180 pontos em maio, em meio à tensão política entre o Congresso Nacional e o presidente Jair Bolsonaro para a aprovação da reforma da Previdência, bem como o aumento das tensões da guerra comercial entre EUA e China.
Com a aprovação da reforma da Previdência em 1º tuno na Câmara dos Deputados, o risco-país despencou para 126 pontos. Essa queda no risco-país é reflexo da melhora na percepção do investidor em relação ao Brasil e tem relação direta com a aprovação da Reforma da Previdência, com redução do déficit fiscal e redução do tamanho do Estado.
O mercado financeiro sempre procura antecipar os eventos importantes e, neste caso, a expectativa é que a reforma da Previdência seja aprovada em outubro. Portanto, a aprovação da reforma da Previdência já é precificada no atual nível de risco Brasil.
Acredito que é uma questão de tempo para o Brasil recuperar o selo de grau de investimento novamente.
O Brasil já teve o selo de grau de investimento em junho de 2008, bem antes da crise imobiliária no Estados Unidos. Infelizmente, alegria de pobre dura pouco e a classificação de risco brasileira foi rebaixada para grau especulativo em setembro de 2015.
O Brasil tem classificação de risco “Ba2” pela Moody’s, dois níveis abaixo do grau de investimento; “BB-” na classificação da S&P e da Fitch, três degraus abaixo do selo de bom pagador. O rating do Brasil tem perspectiva “estável” nas três agências de risco
Emissões de dívidas de empresas brasileiras
Na semana passada, as empresas brasileiras estavam realizando emissões de dívida no mercado internacional com custo médio equivalente a 246 pontos-base acima dos títulos do governo dos EUA (Treasuries) que são a referência para calcular o custo de dívida das empresas.
O custo de emissão de dívida das empresas brasileiras (246 pontos base) ficou abaixo dos outros países emergentes (257 pontos), uma diferença favorável ao Brasil de 11 pontos que não acontecia desde outubro de 2014, quando o Brasil tinha o grau de investimento.
Quanto tempo para o Brasil recuperar o grau de investimento?
Na minha opinião, o Brasil irá recuperar a classificação de grau de investimento no segundo semestre de 2020.
A aprovação da reforma da Previdência é apenas o primeiro passo do Governo, que ainda precisará fazer a reforma tributária e colocar o país na rota do crescimento sustentável novamente.
O principal indicador que as agências de rating analisam para classificar o risco Brasil é o nível de endividamento público, que atualmente está 78% do PIB (51,5% em 2013).
A dívida pública cresceu muito nos últimos anos devido à forte retração da economia em 2015 e 2016, com forte queda de 7% no PIB no período.
Somente com a volta do crescimento econômico (PIB crescendo de 2% a 2,5% ao ano), com aumento da arrecadação, que a relação dívida pública/PIB irá estabilizar e as agências de risco poderão elevar o rating do Brasil.
O primeiro passo será quando a reforma da Previdência for finalmente aprovada em outubro de 2019, assim as agências de classificação de risco (rating) deverão mudar a perspectiva do rating de “estável” para “positiva”. Assim, o caminho ficará livre para a elevação do rating do Brasil.
A volta do grau de investimento vai proporcionar um enorme fluxo de recursos de investidores estrangeiros para o Brasil, o que é bastante positivo para a bolsa de valores.