O mercado futuro de açúcar em Nova York, que chegou a negociar a 23 centavos por libra-peso na sexta-feira, devolveu os ganhos da semana. Isso foi influenciado pela desvalorização do real frente ao dólar e pela percepção de que os impactos dos incêndios e da crise hídrica nos canaviais foram menos graves do que se temia. A moagem de cana está dentro do esperado, e estima-se que o ano termine com um total de 595 a 605 milhões de toneladas de cana, uma surpresa positiva.
O vencimento março-25 encerrou a semana cotado a 22,05 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de apenas 9 pontos em relação à semana passada (equivalente a dois dólares por tonelada). Os demais vencimentos fecharam praticamente inalterados, com exceção dos contratos após maio-26, que tiveram desvalorizações de até 34 pontos, muito devido ao comportamento do real. O dólar encerrou a semana cotado a R$ 5,8681, com uma queda de 2,8%.
A recuperação na oferta de açúcar – ou a percepção de que não faltará produto – fez com que o mercado pressionasse os preços, frustrando os fundos que apostavam em altas mais expressivas. Segundo dados do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), os fundos reduziram suas posições compradas para cerca de 20 mil lotes, diminuindo quase um terço da posição que mantinham na semana anterior.
Apesar desses ajustes, os preços ainda se mantêm acima das expectativas de alguns meses atrás, lembrando que, em agosto, estavam na faixa dos 18 centavos. Para o próximo ano, as usinas projetam uma redução na produção, o que poderá impactar a oferta de açúcar. Permanecemos otimistas para o cenário de 2025.
Nos últimos 200 dias, o preço médio do açúcar tem sido cerca de 20 centavos por libra-peso, sugerindo que esse é um piso razoável para o mercado atualmente. Em comparação, a média dos últimos cinco anos está em torno de 18 centavos, mesmo com o impacto da Covid-19, o que reforça a firmeza do mercado para o futuro.
Na próxima semana, com as eleições americanas, a volatilidade deve predominar. Segundo o Wall Street Journal, um trader francês, identificado apenas como Théo, apostou mais de US$ 30 milhões na vitória de Trump nas eleições dos EUA, acreditando que as pesquisas subestimam o apoio ao ex-presidente. Ele usou várias contas no Polymarket, um site de apostas e previsões, para dispersar suas apostas e evitar oscilações bruscas nos preços. Se Trump vencer, Théo pode lucrar mais de US$ 80 milhões; caso contrário, arrisca perder quase todos os seus ativos líquidos. Suas apostas chamaram a atenção e desencadearam uma investigação pela Polymarket, que confirmou sua experiência no setor financeiro.
Um executivo experiente de uma grande instituição financeira comentou: “O mercado está reagindo negativamente à falta de clareza nas ações e na comunicação do governo sobre a política fiscal. Embora a economia brasileira apresente indicadores positivos – como a baixa taxa de desemprego e a boa atividade econômica –, o mercado penaliza o país devido à incerteza sobre o controle dos gastos públicos. Existem rumores de um pacote de ajuste fiscal entre R$ 20 e R$ 40 bilhões, mas ele ainda não foi oficialmente anunciado, e há questionamentos jurídicos sobre algumas medidas”.
Além disso, “a recente viagem do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à Europa foi malvista, transmitindo uma imagem de ausência em um momento em que o mercado busca respostas claras. Isso tem pressionado os prêmios de risco, impactando as taxas de juros e o câmbio. Em comparação, nos EUA o cenário também é incerto com as próximas eleições, mas o impacto atual sobre o real é mais determinado por fatores internos do Brasil”, complementa o profissional.
Resumo da ópera: o mercado aguarda ações e comunicações mais assertivas do governo para melhorar a confiança e reduzir os prêmios de risco. Enquanto isso, vale a pena observar os preços atrativos em reais por tonelada que as fixações estão mostrando para 25/26 e 26/27. A usina que optar por fixar seu açúcar para 25/26 pode obter mais de R$ 2.800 por tonelada e para 26/27 cerca de R$ 2.700.
Esses preços – ajustados pela inflação num intervalo de 20 anos – ocorreram em apenas 13% e 20% de todos os eventos, respectivamente. Deixar de aproveitar essa oportunidade pode causar arrependimentos. No entanto, considerando que os preços em centavos de dólar por libra-peso estão pressionados por vários fatores, especialmente devido à curva futura do real, recomendamos que qualquer fixação de preço em reais por tonelada seja acompanhada pela compra de uma call (opção de compra) entre 200 e 250 pontos acima do mercado, para aproveitar uma possível correção de preços que, acreditamos, deve ocorrer.
Análise técnica (por Marcelo Moreira): Após o Março-25 negociar na máxima da semana de 23.00 centavos de dólar por libra-peso (nosso primeiro objetivo no curto prazo) acabou encerrando @ 22.05 centavos de dólar por libra-peso com a ajuda da desvalorização do real! No curto prazo próximas resistências ainda a 22.16/23.00/23.45/24.34 centavos de dólar por libra-peso e importantes suportes a 21.43/20.77/20.35 centavos de dólar por libra-peso (respectivas médias-móveis dos 50, 200 e 100 dias).