Lula diz que não há espaço para negociação e rejeita "humilhação" de ligar para Trump
A tarifa como contenção, não punição
Como será o futuro das relações comerciais entre as maiores potências globais? Essa pergunta já não é apenas uma especulação distante, mas uma realidade que impacta mercados, empresas e consumidores todos os dias. Entre os Estados Unidos e a União Europeia, a negociação sobre tarifas e investimentos vai muito além dos números, ela reflete um jogo de poder, estratégia e adaptação em um mundo cada vez mais imprevisível. Entender o que está por trás desse acordo é fundamental para quem quer navegar com segurança no cenário econômico atual.
É fácil em um primeiro momento enxergar a tarifa de 15% como uma derrota em comparação aos antigos 2%, e não deixa de ser. Mas, frente ao cenário real que se desenhava, ela aparece mais como um freio de emergência do que como uma penalidade. Dado o histórico recente da administração americana, a Europa poderia ter saído muito pior. E não se trata de uma especulação: o risco de tarifas de 30%, ou mesmo 50% em caso de retaliação, esteve claramente sobre a mesa.
Mesmo dentro desse novo regime, há amortecedores. Setores sensíveis, como o farmacêutico, seguem com tarifa zero enquanto uma investigação de segurança nacional estiver em curso. O mesmo vale, em parte, para semicondutores, especialmente os equipamentos de fabricação, que foram explicitamente isentos. A tarifa de 15%, embora ampla, aparece como um teto, e não como uma aplicação cega. Isso mostra que houve espaço para negociação e que alguns limites foram respeitados.
Um acordo duro, mas instrutivo
A fragilidade europeia não é segredo. O crescimento permanece fraco, girando em torno de 1%, e a tolerância das lideranças a qualquer custo econômico adicional é cada vez menor. Esse contexto foi compreendido com precisão por Washington, que adotou uma estratégia dura, mas eficaz. A resposta de Bruxelas foi contida, e isso deve ser visto com realismo: enfrentar mais uma crise seria insustentável neste momento.
Há espaço para críticas, sim. Mas elas devem considerar o quadro completo. A Europa sai do acordo em posição melhor que a China, que enfrenta tarifas de até 55%, e em linha com parceiros como o Japão. Além disso, os compromissos energéticos firmados com os EUA podem significar um movimento de reequilíbrio geopolítico mais amplo, particularmente relevante enquanto a guerra na Ucrânia continua sem fim claro. A dependência americana, embora desconfortável para alguns, se mostra inevitável e até funcional neste momento.
Vejo esse acordo como um copo mais do que meio cheio. Não resolve todos os problemas, mas elimina uma fonte significativa de incerteza, impede uma nova crise comercial e reorganiza as peças de maneira mais previsível. Em um mundo onde a previsibilidade é um ativo raro, isso não é pouca coisa. Às vezes, ser realista é o único tipo de força disponível, e, nesse caso, foi suficiente.
Conclusão: Cenário ruim, mas dava para ser pior
Ver esse acordo como uma rendição é ignorar o contexto. A Europa não está em posição de força e, diante do risco de uma guerra tarifária, adotou uma postura de contenção. O resultado pode não ser glorioso, mas é funcional. Mais importante: ela retira do caminho uma ameaça concreta à estabilidade dos mercados. Como investidor, vejo isso como uma oportunidade, especialmente em setores que podem se beneficiar das receitas tarifárias inesperadas, como o de saúde nos EUA, que enfrenta cortes nos subsídios do ACA. Para a União Europeia, o acordo representa uma pausa tática em vez de uma derrota estratégica.