O distanciamento forçado pelo início da pandemia, ainda em 2020, fez com que os aplicativos de comunicação e gestão profissionais se tornassem uma ferramenta indispensável. Naquele momento, duas opções se destacaram das demais e se consolidaram como os dois expoentes desse segmento: o Slack, lançado em 2013, e o Microsoft Teams, que chegou ao mercado três anos mais tarde. Atualmente, mesmo com o mundo já retomando a normalidade após o momento mais crítico da COVID-19, é possível dizer que a disputa entre essas ferramentas segue bastante aquecida.
Em um dos capítulos recentes dessa rivalidade, um gráfico que rodou na internet recentemente mostra que o aplicativo da Microsoft (NASDAQ:MSFT) (BVMF:MSFT34) contava com 75 milhões de usuários diários em 2020, enquanto o seu competidor possuía apenas 12 milhões. Por conta dessa larga diferença, muitos já declaram vitória para o Teams. No entanto, eu tendo a não concordar totalmente com esse discurso. Por mais que realmente exista uma grande diferença no que diz respeito aos usuários, essa não pode ser a única métrica a ser considerada nesse tipo de rivalidade.
Peguemos como exemplo o fator do faturamento dessas plataformas. Pensando no lado do Slack, sabemos que a empresa subiu impressionantes 43% nesse montante, chegando a US$ 903 milhões. Apesar dessa mesma métrica sobre o Teams não estar disponível, podemos estimar a partir dos dados que estão disponíveis. Segundo levantamento, apenas 50% dos mais de 260 milhões de usuários Premium do Microsoft 365 utilizam o Teams. Tendo isso em mente, quantas dessas pessoas pagam só por causa dessa ferramenta? Duvido que o número chegue a 5%.
Aliás, aqui vale um adendo importante, que inclusive culminou num episódio significativo dentro desse embate entre as plataformas. Como foi dito acima, a Microsoft acabou adicionando o Teams como um complemento gratuito para os assinantes do seu pacote 365 Business. Esse movimento acabou gerando uma queixa antitruste por parte do Slack contra a Microsoft na União Europeia, por acreditar que essa estratégia se trata de um uso indevido do poder de mercado.
Aqui não vou entrar no mérito se a manobra da Microsoft nesse caso foi correta ou não, porém é inegável que o que acontece no jogo “enterprise” não é sobre usuários finais, mas sim sobre compradores finais. E se tratando deste viés, a empresa fez um excelente trabalho de Sales-Led-Growth, que acabou desacelerando de forma muito significativa o potencial de crescimento que a concorrente possuía.
Diante desse cenário, é possível tirar algumas conclusões importantes sobre esse tipo de disputa. Por um lado, nem sempre o fato de ser o melhor produto ou o pioneiro no segmento será o suficiente para garantir a maior quantidade de usuários. Por outro, sempre irão existir pessoas que preferem um produto que ofereça uma experiência premium – que, neste caso, deve ser dado o mérito ao Slack –, mesmo que isso signifique um custo maior.
Dessa forma, é inegável que o Teams conta com uma gama de usuários muito mais robusta, porém, além dessa não ser a única métrica válida, é preciso ainda entender o que leva a essa diferença. Isso porque, é impossível desvincular esses números ao próprio tamanho da Microsoft como empresa em si, além do fato da plataforma ter sido incluída de forma gratuita a uma outra assinatura.
Além disso, é preciso lembrar que o Slack é pioneiro nessa categoria de gestão e comunicação — a companhia assumiu tamanho protagonismo no setor que acabou comprada pela Salesforce Inc (NYSE:CRM) (BVMF:SSFO34) por 27 bilhões de dólares. A comparação não é só injusta na quantidade de receita e usuários ativos que cada produto gera, mas como também pelo fato da startup ter sido vendida por um valor bem acima da média, algo que merece seu mérito.
Sendo assim, não é correto dizer que uma dessas plataformas se confirmou como vitoriosa nessa concorrência. Como mostrei brevemente no texto, é possível encarar diversos cenários diferentes onde tanto o Slack quanto o Teams possuem um brilho maior. Na verdade, quem tem a ganhar com essa disputa é o usuário, que possui duas ferramentas competentes à sua disposição.