AgRural eleva previsão para soja 2020/21 no Brasil e vê 'safra de ouro'

Publicado 10.09.2020, 15:58
Atualizado 10.09.2020, 16:00
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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deverá colher uma safra recorde de 131,3 milhões de toneladas de soja em 2020/21, aumento de 5% ante a temporada anterior, se o tempo colaborar com um ciclo que promete ser o melhor da história também em termos de rentabilidade para os produtores, avaliou a AgRural.

A consultoria, que até agosto via uma área plantada de 37,9 milhões de hectares e uma produção de 129,3 milhões de toneladas, ajustou para cima os números, e agora espera um crescimento de 3,25% no plantio, para 38,1 milhões de hectares, à medida que cresce o otimismo com uma safra com o maior nível de vendas já registrado antes da largada das plantadeiras, o que deve começar nas próximas semanas.

Em entrevista à Reuters, o analista da AgRural Fernando Muraro explicou que em 2020/21 os produtores do Brasil, maior produtor e exportador global de soja, poderão capturar praticamente a integralidade dos efeitos do câmbio mais alto para os preços, algo que não aconteceu em 2019/20, já que quando o dólar atingiu patamares próximos de 5,40 reais, em abril, grande parte da safra anterior já havia sido vendida.

    "A 2019/20 foi boa, mas a 2020/21 será excelente, agora sim os produtores estão aproveitando efetivamente a desvalorização cambial (do real)", disse ele, em referência ao importante fator que se reflete nos preços em reais.

    "Por isso que a safra 2021 eu chamo de safra de ouro, nem nos melhores sonhos as pessoas acreditavam que a saca de soja chegaria a 120 reais, todo o benefício vai acontecer na safra 2021", afirmou Muraro.

A AgRural ainda verificou uma oscilação recorde nas cotações. Em Lucas do Rio Verde, importante região produtora de Mato Grosso, a saca de soja oscilou 53,50 reais entre janeiro em dezembro, batendo a grande variação vista em 2012, de 39,50 reais, versus apenas 19,50 reais em 2019.

"A gente nunca conseguiu atingir o preço perfeito, o mercado ficou várias vezes acima do preço sonhado. O produtor pensava: 'não quero vender a 70', quero 80, e teve 80, e assim por diante", disse.

Outro ineditismo foi a comercialização de três safras em um mesmo ano, "coisa que nunca vimos na histórica", disse Muraro, ao citar as vendas de 2019/20, praticamente encerradas, 2020/21 e 2021/22.

No caso da 2020/21, que será plantada neste mês, as vendas avançaram para 48% da produção esperada, alta mensal de 5 pontos, enquanto o Brasil já vendeu 2,2% do ciclo 2021/22, segundo os números da consultoria.

"São muitas coisas inéditas para o setor, vivemos um momento maravilhoso de forma geral", disse ele, acrescentando que o comentário vale para produtores e tradings.

"A desvalorização cambial é sempre uma dádiva para agricultura, mas essa foi sensacional", disse ele, destacando ainda que a bolsa de Chicago tem se firmado, compensando um recuo recente do dólar frente ao real.

Ele ponderou que as rentabilidades ainda dependem de uma produtividade que está vinculada ao clima para o desenvolvimento das lavouras, mas destacou que os capitalizados produtores estão investindo fortemente.

"Em virtude dessa rentabilidade, é uma safra de super investimento. A mesma coisa para a safrinha (de milho) do ano que vem...", disse.

Usando como exemplo o Mato Grosso, a AgRural detectou uma alta de 10 reais por saca para a soja de uma safra para a outra. Considerando uma produtividade média de 60 sacas, isso representa um faturamento de quase 600 reais a mais por hectare, disse o analista.

© Reuters. Soja sendo descarregada em caminhão em Primavera do Leste

Ele disse ainda que, para completar, o produtor conseguiu fechar seus custos com fertilizantes e agroquímicos em bons momentos. Além disso, muitos deles, pagando à vista, tiveram bom poder de barganha, fechando acordos com um dólar mais baixo.

(Por Roberto Samora)

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